Hoje é imperativo falar sobre o túnel, o fundo do poço, o purgatório.
É vital reconhecer que eles existem e que é necessário que existam para que possamos reconhecer a verdadeira luz, vencer receios, domesticar o Ego…
Apesar de doer, desesperar, atormentar…
Ainda mais urgente que reconhecer a existência e a influência de todos esses elementos é admitir que eu me encontro nesse lugar, onde tenho a alma a arder e o corpo a padecer, onde os fantasmas do passado, ainda bem vivos, brincam com a minha razão e me deixam no limiar da insanidade.
É imprescindível dar-vos a conhecer que eu estou nesse lugar há muito tempo e que o que semeio ao vento são os ecos do desejo de fazer a diferença para a construção de um lugar melhor para se viver pois, apesar do desalento, tenho plena consciência do propósito de ser luz que me foi confiado antes de nascer.
Parte de mim ainda resiste e escreve histórias nas profundezas de mim mesma, enquanto o meu brilho se dissipa entre as sombras que cultivo sem querer.
Mas a luz não se apaga, apenas ilumina um outro lado, que conta outras histórias e fala de outros sentimentos.
Um lado que esconde a dor por trás das feridas, o desespero que grita oculto nas palavras de esperança que se revelam através das minhas mãos, onde o colorido do mundo se desbota e percebo que a vida também é magnífica em tons de cinza, embora nem todos pensem dessa forma.
Deixo as minhas mais Íntimas e bastardas emoções velejarem nesse mar manso e profundo, que as acolhe com apreço e cortesia e afoga as suas maldições, deixando apenas as lições, livres do mal, para emergirem qual golfinhos azuis-celestes prontas a emocionar os espectadores.
Nada como ter o dom de transformar o pó em purpurina!
Maria Beck Pombo