Sentem, choram e arrependem-se vezes sem conta, mas sem deixar tudo isso eclipsar o amor imenso que têm pelos filhos. O amor egóico pois amar um filho é também amar parte de si mesma.
Mães reais não nasceram mães. Nasceram mulheres!
Mulheres que tinham uma vida, outros sonhos, aspirações. Que orgulhavam-se da sua figura, que bebiam, viajavam, saíam para dançar.
Mulheres donas de si, dos seus horários, dos seus amores, da sua agenda…
Mulheres que aceitaram o desafio de abdicar do pleno controle das suas vidas, do seu corpo, do direito às suas emoções em troca da experiência de gerar outra que não é sua, mas à sua estará ligada vitaliciamente.
Assinam o contrato sem lembrar-se que a encomenda não traz manual de instruções.
Mães reais são guiadas pelo instinto que desconhece a perfeição, carregam frustrações e desconsolos e anseiam por mais que serem simplesmente mães. Embalam os filhos no colo e cantam cantigas que pacificam também seu interior impelido na busca feroz do que ainda resta de si alheia a extensão do outro.
E calam, resignam-se ao sofrimento mudo pois ser mãe é abdicar, é ser estoica, altiva e inabalável. É flutuar sobre as águas e caminhar sobre as brasas sem esforço como se fossem ungidas de qualidades sobre-humanas no ato da concepção!
Entretanto a maternidade não transforma as mulheres em heroínas dotadas de tolerância, equilíbrio e obstinação e sim: as mães reais também perdem o controle e choram a portas fechadas como bebés!
Erram e cometem centenas de injustiças que carregarão para o túmulo na consciência e por mais que se esforcem sabem que sempre haverá quem lhes diga que não fizeram o suficiente.
As mães são terra fértil onde brotam anseios e angústias, certezas e dúvidas, sossego e traumas. São a introdução às primeiras decepções e recusas da vida e o fazem por estima e devoção.
Pois sim, essas quimeras cingidas pela armadura dos devaneios do humano, parte amor absoluto, parte revolta e solidão são o fio condutor que liga projetos a realizações.
Mães reais são imperfeitas e enxergam com olhos de ver. Não reclamam filhos ideais pois compreendem que ser humano é ser incompleto, é buscar eternamente o inatingível e aprender a cada passo. É construir-se dia após dia.
E entregam aço e betão, muitas vezes retirados da sua própria estrutura, para edificar o futuro da humanidade enquanto tentam manter-se eretas pelo tempo que for necessário.
Mães reais são humanas e precisam de porto-seguro não mais porto-solidão.
Maria Beck Pombo