Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Má interpretação

Turistando Lendas e Lugares – Má interpretação

Opinião | 30 Junho 2021

Em meio ao ambiente escuro e opressivo daquele quarto, diante do corpo encolhido junto à parede, cuja forma mais se assemelhava a um animal selvagem que a um ser humano, a balbuciar palavras ininteligíveis enquanto vomitava dissabores, ela tentava clarificar a mente e processar a cena de modo a atingir o mais próximo possível da realidade.

Sentia o estômago às voltas, como se tivesse levado um valente murro, é curiosa a força que têm as palavras quando nos pega desprevenidos, especialmente quando nos são lançadas à cara acompanhadas da distorção absurda dos factos e dos atos!

Pensou em todas as batalhas que travou em nome da honra de quem não a tinha, em todos os momentos em que foi leal a quem lhe cobriu o corpo e a alma de adagas, em todas as vezes que teve suas verdades tingidas de negro e obrigadas a viver no porão, enquanto as mentiras, das quais lhe pintaram, ganhavam as luzes e a plateia.

Tornou-se o fruto apodrecido, a marioneta manipulada e vendida pela vontade e pelas mãos de quem quis proteger.

As palavras ecoavam em seus ouvidos e misturavam presente e passado, mas em nenhum momento encontrou ela o nó onde a sua mensagem fora retorcida, como poderia ter sido tão descuidada a ponto de criar um sentimento tão contrário ao que havia planejado?

Em que momento o abrigo tornou-se prisão? O afeto, monopólio?

Em que momento a verdade fora transformada em exagero, e repetida, exageradamente, até cair na descrença?
Como poderia alguém com quem dividira o pão, e não só, ter uma visão tão deturpada daquilo que ela era de facto?

A revolta começara a tomar conta, preenchendo seu coração de raiva e repúdio por tão inabilidoso pintor, mas, em lugar de lhe apontar a porta da rua, enxugou as suas lágrimas, e, com toda a paciência, tentou desfazer cada nó em sua mensagem, de modo a tornar-se clara e precisa.

Ao agir dessa forma, traçou o pior dos destinos, pois foi incapaz de perceber que as pessoas vêem o mundo com os olhos e com a malícia que têm, independentemente daquilo que lhes é de facto mostrado.

Levaria muitos anos até, finalmente, aprender que a maioria das pessoas julga o outro sob a ótica dos seus próprios pecados, e que o melhor a fazer é deixar-lhes servir a carapuça.

Não somos responsáveis pelo tamanho da cabeça de ninguém!

Maria Beck Pombo

 

 

 

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