Admirava, com uma satisfação quase narcisista, a imagem que se estampava no ecrã.
Em tons de outono estava o resumo de tudo o que Ela significa de corpo e alma, de mente e coração. Onde cada folha, cada sombra e cada palavra conta em silêncio uma história a espera de ganhar voz através de bocas alheias a sua.
Pensou nos momentos que passaram até que pudesse colher o fruto doce que o árduo trabalho de adoçar as dores do mundo cultivara e repousou plena na certeza de que, cedo ou tarde, tudo tem o seu tempo e ele está sempre certo.
Grata estava por saber que agora as mensagens que trazia ganhariam um novo espaço e conquistariam outros corações, eram o seu presente para o futuro, que usa o passado como barco e não como âncora.
Assim caminha e há de sempre caminhar: de pés descalços sobre a relva a transportar o universo que grita sob as suas vestes, pois desse modo se movem os leves de espírito, que não se deixam afundar pelos desassossegos, antes os recolhem com ternura e mostram ao mundo que a Esperança não vem de esperar e sim de transmutar, de levantar-se a cada tombo cada vez mais forte e disposto a permanecer no caminho almejado pois reconhece que ele é de facto destino e não uma mera escolha.
Alguns livros devem ser julgados pela capa!
Maria Beck Pombo