Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares - Hoje não...

Turistando Lendas e Lugares - Hoje não...

Opinião | 3 Novembro 2020

E um dia eu, que para muitos fui nada, transformei-me numa manhã inteira.
 
E a claridade que trazia iluminava o caminho de outros tantos
a pintar de dourado desgostos e memórias.

Um dia eu, que tudo fui para uns poucos,
colhi lágrimas para flores regar.

E dei a mão para afastar a Solidão, essa sombra que se assoma
e revela nossa insignificância.
Mas hoje não.

Hoje recolher-me-ei a esse sofrimento que emudece diante do mundo
e dentro de mim faz palco.

Hoje não existirão palavras de consolo.

Elas estão caladas, cativas, resignadas ao padecer que a saudade provoca, minguando-me aos poucos como uma pétala deitada ao chão pelas mãos de uma criança a brincar que bem-me-quer.

Hoje trago as veias cheias de magma, queima cada célula do meu corpo e no entanto nada aquece.
 
Congelados os momentos aos olhos que miram para dentro: as escolhas sem volta batem-me à porta, batem me a porta à cara, rasgam minha alma em tiras e batem as asas.

E cada passo em frente torna-se uma distância a mais a reinar intransponível até desaguar em um mar de despedidas.

Hoje estou imersa em mim mesma e enxergo o mundo distorcido pelo verde dos meus olhos lacrimados.

Os espelhos foram quebrados...

Hoje, apenas hoje, não haverá palavras de consolo, ou consolo para esse coração.

Amanhã, talvez, mas hoje não!

Maria Beck Pombo

 

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