No dia dois de Maio do presente ano comemorar-se-á o Dia das Mães em Portugal e eu não pude deixar de recordar como se comemorava esse tipo de data durante a minha infância. Quais os rituais que preparávamos para encantar a nossa mãe. Do simples pequeno-almoço levado até a cama, a exemplo de todo o anúncio de creme vegetal que se preze, até a entrega da prenda, em geral um pano de loiça, pois obviamente toda a mãe tem de se contentar em ser parte da casa onde vive e não mais um indivíduo com necessidades próprias.
No Dia dos Pais oferecíamos uma gravata, porque todo homem é executivo. Essa gravata, oferecida com todo o carinho, apertava seu nó em meu pescoço ano após ano, até quase me fazer sufocar.
O pano de loiça, verdade seja dita, apesar de ser uma prenda extremamente impessoal, até é de alguma serventia, não só para a mãe, mas também para todos os elementos da família. Porém a gravata…
Meu pai tinha uma coleção delas, uma mais bonita que a outra, todas cuidadosamente embrulhadas em papel de seda, a servir de alimento às traças. Também, pudera, onde raios é que já se viu um camionista de gravata?!
Todavia a cada ano que passava eu recolhia dentro de mim a frustração, e oferecia ao meu pai aquela prenda totalmente inútil e descabida, até ter idade suficiente para questionar e me fazer ouvir.
Essa experiência abriu meus horizontes e pude perceber que passamos por muitas situações como essa em nossas vidas, não apenas quando queremos oferecer uma prenda a alguém, mas também quando desejamos nos dar, estabelecer relações, criar laços…
O facto é que estamos tão habituados a contemplar a nossa própria imagem reflectida nos olhos dos outros que esquecemos de enxergar o outro.
Passamos, então, a oferecer gravatas e panos de loiça, sistematicamente, sem pensar no que satisfaz e alegra a outra parte, verdadeiramente.
Empurramos goela abaixo a nossa visão de mundo, almejamos que eles sigam os passos que os aproximam nossa verdade sem nos preocuparmos com seus gostos, vontades, opiniões, sem tentar conhecê-los intimamente, e ficamos sem compreender quando quem amamos se aparta de nós, porque fizemos deles espelho e não janela.
A diferença é uma coisa maravilhosa, é aquilo que permite a evolução humana.
Viver é estar aberto para essa troca de energia, de experiências. É aprender todos os dias, desafiar-se a compreender a alma humana, abdicar do controlo e aceitar ser parte complementar do todo.
Apenas quando percebermos que o mundo não gira em torno do nosso próprio umbigo estaremos preparados para nos entregarmos plenamente ao Universo e encontrar a verdadeira felicidade.
Desde que compreendi tudo isso deixei-me das gravatas e dos panos de loiça e passei a oferecer compreensão e abrigo e aos poucos dei por mim a ser uma pessoa muito melhor.
É preciso desatar os nós para abraçar o mundo!
Maria Beck Pombo