Fazia-se inverno naquela manhã de verão, ao longe ouvia-se o burburinho das pessoas a montar as tendas para a festa de São Pedro.
Andou descompromissadamente até o pequeno quiosque situado na Praça do Almada, com o objetivo que comprar um maço de tabaco, como fazia frequentemente.
Tinha acabado de devorar uma gigante sandes mista pelo caminho, pelo que trazia o papel que embrulhava o saboroso lanche amassado entre os dedos da mão esquerda.
Fez o seu pedido à senhora que toma conta do quiosque, que já sabia, deveras, qual a marca que ela fumava e saiu distraída afim de colocar o papel que trazia no caixote do cartão para reciclagem.
Azar dos azares a distração pregou-lhe uma partida pois ao invés do lixo que trazia na mão, foi o maço acabadinho de comprar e ainda por abrir que ela jogou caixote adentro.
Riu-se de si mesma e agradeceu ao Universo pela tentativa genuína de a fazer largar o vício e deu de volta para o estabelecimento afim de comprar outro maço, onde relatou à senhora que a atendeu, o seu infortúnio.
Descrente do ocorrido, a senhora deu de mão nas chaves do caixote e foi verificar se havia meios de resgatar o produto, escusado seria dizer que todo o cartão havia sido removido algumas horas antes pela equipa de limpeza da câmara, e não havia meios de o alcançar.
Ela pegou então no novo maço e seguiu o seu caminho, ainda a rir-se, pois não era pessoa de se deixar amuar por coisa pouca.
Dias depois voltou ao quiosque com o propósito de sempre. Fez o seu pedido e qual não foi a sua surpresa ao lhe entregarem o tabaco perdido, juntamente com o relato pormenorizado de como, engenhosamente, foi retirado do local onde se encontrava.
Sentiu o coração inflamar-se de gratidão, não pelo maço entregue gentilmente em suas mãos, pois sabido é que fumar faz mal à saúde, mas pela gentileza alheia que, indubitavelmente, é capaz de curar a alma!
Maria Beck Pombo
