Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares - Galope dos Sonhos

Turistando Lendas e Lugares - Galope dos Sonhos

Opinião | 20 Julho 2021

De todos os momentos que vivera em Santa Maria, poucos a fizeram mais feliz que cantar, acompanhada dos amigos, entre as tendas da peonada nos Rodeios do Conesul.

Inusitado era o seu grupo: ela, a mais jovem dentre os outros, com sua aparência nada convencional, dois amigos com idade próxima à do seu pai, e um gaiteiro de quase oitenta anos!

Caminhavam pelo acampamento e paravam, de abrigo em abrigo, a oferecer milongas, chamamés, xotes, vaneiras e muitos outros ritmos tradicionalistas, para alegrar o espírito e aquecer o coração de prendas e peões.

Merceditas viajavam entre os Balseiros do Rio Uruguai, ao Entardecer. Enquanto Milongas abaixo de mau tempo abrigavam Potros sem dono.

O público mais que gostava e nunca deixava de oferecer um trago de canha e churrasco aos cantantes que, divertidamente, se autodenominavam “Os Cãojunto”.

Saíam da Estância do Minuano de corpo e alma alimentados e a transbordar de felicidade.

Mais divertido ainda eram os ensaios que, geralmente, se davam na casa do percussionista: um misto de trabalho e diversão.

A boa disposição imperava sempre no recinto e o violonista, bom barbaridade, tinha a paciência de um monge para achar o tom da vocalista que mais encantava do que cantava.

Depois dos ensaios seguiam os dois, de viola e microfone em punho, para um bar que ficava à beira de casa, na intenção de encerrar os trabalhos com a boa e velha “saideira soletrada”.

O destino ofereceu a essa prenda um dos melhores, e mais improváveis, amigos que poderia desejar e provou que não há obstáculos possíveis no mundo quando a amizade é verdadeira.

Deu-lhe um companheiro, não só de farra, mas conselheiro e apoio em muitos maus momentos, quando a vida dela se perdia, sem cachorro, em mato bravo.

Com uma experiência de vida que cruzava a dela em décadas, sempre a viu exatamente como era de facto. Sem se deixar enganar pela embalagem que trazia estampada aos olhos de toda a gente, ainda que não pudesse compreender por que razão ela trocara campo por mar.

Esse foi o amigo que mais lhe custou deixar nos pagos de lá, mas, para amenizar a saudade, trouxe a amizade na bagagem.

E assim continuam a partilhar as experiências e os sonhos, a construir a ponte que os liga através do oceano, com uma música aqui, um poema acolá.

Sempre a recordar um ao outro que a amizade não se gasta, é uma copla de recitar em dueto, imortal e composta pelos donos do Tempo!

 

Maria Beck Pombo

 

 

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