Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Eu, abrigo

Turistando Lendas e Lugares – Eu, abrigo

Opinião | 8 Março 2022

A guerra chegou prematuramente nas bandas de Aver-O-Mar.

Atrás das trincheiras as aflições bombardeiam a mente do exército de um homem só, pirateando os sonhos, saqueando a vontade, enterrando a alegria.

Os olhos marejados vislumbram o futuro distorcido pelas angústias indomáveis pela razão, e já não conseguem captar a luz do sol que nasce cada vez mais cedo.

Nos tempos que se avizinham a humanidade grita e se consome entre o fogo e as lágrimas, negando o refúgio ou a distração daquilo que se passa no recôndito de si mesmo, pois dentro de si se dá a peleia mais feroz.

Mas escuta a voz que te sussurra doce, marinheiro:

- Despe-te da farda e do pijama e repousa nesse leito, que está tão longe de ser campa!

Mira a minha face e encontra o espaço que te ofereço, onde não encontrarás trincheiras, antes um par de bandeiras brancas.

Repara, cariño, na nossa filha que cresce a florescer em beleza e curiosidade, sempre a perguntar disparates sobre esse disparatado mundo que não sabemos explicar.

Como se a culpa de toda essa desordem fosse do mundo e não do homem.

Acalma-te em meus braços e inspira profundamente o perfume que te recorda esse lugar que é apenas teu, que a vida te sorriu no dia em que puseste os teus lábios nos meus e ousaste crer que, afinal, foste feito para ser par, não singular.

Segura nessa mão, abençoada pela aliança que selamos outrora, sob o olhar atento de todos os deuses.

E a promessa de ser sempre tempestade se parte em mil partes quando me espalho em calmaria para abrigar teu barco de velas rotas pela viração.

Junta-te a mim, abandona esse claustro e deixa que eu te auxilie a pacificar teus conflitos interiores, que fora do teu corpo, no meu, está a tua paz!

 

Maria Beck Pombo

 

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