No dia 1 de junho de 2014 ela, que sempre amara demais, fechou seus livros de contos e pôs o pé na estrada numa jornada em busca do autoconhecimento, de aprender a viver só consigo própria.
Mais ou menos no mesmo dia ele, que sempre ocupara-se de coisas mais importantes que amar, decidiu fazer o mesmo, por suas próprias razões…
Ela decidiu percorrer o Caminho Central Português, o mais antigo por essas bandas.
Ele decidiu percorrer o mesmo Caminho, pois não tinha tempo para fazer o Francês, a sua primeira opção.
E assim partiram, ela do Porto, ele de Póvoa de Varzim, sem nunca imaginarem que, no momento que escolheram esse específico trajecto, totalmente alheios aos planos dos deuses, tinham traçado também o destino que os uniria onde cada pedra no caminho encurtava dia-a-dia a distância que os separava.
Foi em Mós, já na Espanha que os dois encontraram-se, num dos albergues oficiais para peregrinos, mais ou menos 140 km após o início de sua jornada. Um encontro digno dos romances de Paulo Coelho que ela devorava antes do amor perder-lhe a cor e o sabor.
A chuva e os pés feridos os impediram de ir adiante naquele dia, e assim deu-se início a uma verdadeira história de amor, com pessoas reais e totalmente imperfeitas mas melhor: capazes de miscigenar duas culturas totalmente distintas e fazer resultar.
Muitos foram os quilômetros percorridos juntos até hoje, seis anos depois.
Amaram-se, odiaram-se, brigaram, pacificaram milhões e milhões de vezes.
Pois é assim que se faz quando se ama e sabe-se que o outro vale a pena.
Ela aprendeu a gostar de bacalhau e a amar ainda mais esse torrão lusitano que trouxe-lhe, não um príncipe encantado, mas um homem de carne, osso e cheio de encantos.
Ele aprendeu a gostar de usar bombachas e alpargatas, e a agradecer a prenda gaúcha que enviou-lhe a pátria irmã.
E assim continuam a partilhar o chimarrão, o pão nosso e as esperanças, sempre a agradecer o ditado que diz “Deus escreve certo por linhas tortas”.
E elas o foram: tortas, duras e acidentadas mas sem dúvida nenhuma valeram cada bolha ou trambolhão!
Às vezes, para achar o rumo, basta começar a andar.
Maria Beck Pombo