Entrou por aquelas portas como quem entrasse no Paraíso.
Mal podia crer que, após quase um ano de instrução, poderia enfim pôr em prática tudo que aprendera na teoria, e espalhar o amor entre o criaredo.
A primeira impressão, é de se confessar, que não foi das melhores. O pranto dos pequenos, a impaciência dos adultos, já esgotados por uma rotina onde existem crianças demais e crescidos de menos, a aturdiram a ponto de quase desistir da empreitada logo no primeiro dia.
Lamentou que todas as filosofias de ensino que aprendera, em especial Montessori e Reggio Emilia, que ganharam um espaço muito especial no seu espírito, tenham ficado sepultadas há séculos atrás.
Em um segundo momento sentiu a plenitude de estar cercada de botões a florescer, apenas a espera de rega, solo firme e luz.
Eram tantos que tornaram difícil a tarefa de lhes decorar os nomes, mas não por muito tempo…
Aos poucos começou a habituar-se com a personalidade que cada um trazia, e que também era tarefa dela auxiliar a edificar.
Alguns mais meigos, outros mais rebeldes, os que comiam e os que deitavam fora a sopa toda, os que batiam e os que apanhavam.
E por mais que às vezes ela sentisse imensa revolta com aqueles que “judiavam” dos colegas, tudo aquilo que aprendera ressoava em seus ouvidos:
“São apenas crianças, de punhos cerrados contra os amigos, motivados pela incapacidade de serem compreendidos, a distribuir na escola aquilo que trazem de casa.”
Então, a esses, ela dedicava ainda mais amor, afeto a dobrar para mostrar que o mundo não é uma selva onde eles serão engolidos se não agredirem primeiro e dialogarem depois.
Tomava de bom grado o seu papel de ajudar a revelar melhores pessoas num futuro próximo, pois, às vezes, as pessoas crescidas esquecem que toda a criança é um futuro cidadão.
Sentia todo o carinho que lhe era retribuído, quando a cercavam e chamavam pelo seu nome, quando faziam questão da sua companhia ou de um miminho seu, preenchendo todo o seu ser com a alegria de saber que fez a diferença.
E no momento em que tiver de dizer adeus aos “seus pequenos” levará consigo a certeza de ter deixado uma sementinha de esperança plantada em cada pequenino coração, que crescerá a cada brincadeira, a cada gesto de atenção e se tornará árvore de raízes fortes e frutos doces, prontos a alimentar a geração vindoura.
As crianças aprendem brincando e, curiosamente, os adultos também!
Maria Beck Pombo