Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Enquanto durar a brincadeira

Turistando Lendas e Lugares – Enquanto durar a brincadeira

Opinião | 29 Setembro 2022

 

Entrou por aquelas portas como quem entrasse no Paraíso.

Mal podia crer que, após quase um ano de instrução, poderia enfim pôr em prática tudo que aprendera na teoria, e espalhar o amor entre o criaredo.

A primeira impressão, é de se confessar, que não foi das melhores. O pranto dos pequenos, a impaciência dos adultos, já esgotados por uma rotina onde existem crianças demais e crescidos de menos, a aturdiram a ponto de quase desistir da empreitada logo no primeiro dia.

Lamentou que todas as filosofias de ensino que aprendera, em especial Montessori e Reggio Emilia, que ganharam um espaço muito especial no seu espírito, tenham ficado sepultadas há séculos atrás.

Em um segundo momento sentiu a plenitude de estar cercada de botões a florescer, apenas a espera de rega, solo firme e luz.

Eram tantos que tornaram difícil a tarefa de lhes decorar os nomes, mas não por muito tempo…

Aos poucos começou a habituar-se com a personalidade que cada um trazia, e que também era tarefa dela auxiliar a edificar.

Alguns mais meigos, outros mais rebeldes, os que comiam e os que deitavam fora a sopa toda, os que batiam e os que apanhavam.

E por mais que às vezes ela sentisse imensa revolta com aqueles que “judiavam” dos colegas, tudo aquilo que aprendera ressoava em seus ouvidos:

“São apenas crianças, de punhos cerrados contra os amigos, motivados pela incapacidade de serem compreendidos, a distribuir na escola aquilo que trazem de casa.”

Então, a esses, ela dedicava ainda mais amor, afeto a dobrar para mostrar que o mundo não é uma selva onde eles serão engolidos se não agredirem primeiro e dialogarem depois.

Tomava de bom grado o seu papel de ajudar a revelar melhores pessoas num futuro próximo, pois, às vezes, as pessoas crescidas esquecem que toda a criança é um futuro cidadão.

Sentia todo o carinho que lhe era retribuído, quando a cercavam e chamavam pelo seu nome, quando faziam questão da sua companhia ou de um miminho seu, preenchendo todo o seu ser com a alegria de saber que fez a diferença.

E no momento em que tiver de dizer adeus aos “seus pequenos” levará consigo a certeza de ter deixado uma sementinha de esperança plantada em cada pequenino coração, que crescerá a cada brincadeira, a cada gesto de atenção e se tornará árvore de raízes fortes e frutos doces, prontos a alimentar a geração vindoura.

As crianças aprendem brincando e, curiosamente, os adultos também!

 

Maria Beck Pombo

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