Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Em Alto Mar

Turistando Lendas e Lugares – Em Alto Mar

Opinião | 26 Abril 2022

Em alto mar, antes pombas que gaivotas!

Caminhava estrada fora em silêncio. Até mesmo a música que cotidiana e propositadamente fazia soar em seus ouvidos fora, naquele momento, dispensada para não a distrair do som que produzia o mundo ao seu redor.

Abdicara inclusive dos óculos escuros, para que o sol da primavera, que brilhava tênue sobre ela, invadisse suas retinas, avivando as cores da paisagem, sem cegar.

O vento soprava para longe seus pensamentos, conferindo ao seu espírito a serenidade de não sentir, apenas existir, como se fosse uma tela sem branco, imaculada pelo hesitar da mão do artista em busca da fugidia Inspiração.

Estava imersa em uma espécie de transe em que era capaz de se deixar invadir por todos os movimentos, sons e sensações que a vida derramava sobre ela.

Era uma sensação estranha que misturava isolamento e pertença e que, de uma maneira muito particular, acalmava o seu coração, a libertava e modificava, como nuvem que se prepara para se tornar chuva e regar a terra que faz brotar ervas e árvores, flores e frutos e dar de comer e beber a todos os animais, incluindo o homem.

Navegava, assim, quase inconsciente em mar sereno, sem pensar no caminho que trilhava, como se os próprios pés conhecessem o trajeto de casa e o levassem a cabo, de forma automática e segura.

O entrave do portão fechado a trouxe de volta a realidade e aguçou os seus sentidos, atraídos pelo perfume e pela policromia das flores do quintal, que reinavam absolutas a espera de serem depostas na estação que se avizinhava, com a certeza de que coroariam novamente a Primavera quando sua vez de imperar regressasse.

Abriu a cancela e adentrou seu próprio reino, que a acolhia harmonioso, ora matizado ora desbotado por sentimentos vários, tantos quantos as cores do arco-íris e ainda mais, e sentou-se sob a velha oliveira, que significava e sempre significará terra firme.

É sempre melhor navegar quando há a certeza de chegar a bom porto!

 

Maria Beck Pombo

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