Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Dungeons & Dragons

Turistando Lendas e Lugares – Dungeons & Dragons

Opinião | 16 Agosto 2022

 

O ano era 1996, reunidos em torno da mesa da sala, inundada pela claridade matinal que trespassava a janela aberta, um grupo de seis jovens se debruçavam sobre mapas, dados e rascunhos.

Os dados rolavam sobre a mesa, decidindo o destino dos personagens criados, com muito zelo e atenção, pelos participantes daquele jogo que, embora nascido na década de 70, ainda era uma novidade.

A imaginação voava solta, embalada pela voz do Mestre, que relatava aos outros cinco jogadores coisas sobre o espaço circundante, os desafios a enfrentar, os seres monstruosos com quem teriam de lutar para atingir a vitória.

Dispensável seria dizer que, quanto mais vasta a imaginação do Mestre, melhor e mais interessante se tornava a brincadeira.

Cada personagem tinha um caráter único e era representado por seu criador com propriedade, com direito a sotaques, trejeitos, defeitos, virtudes. Viviam em um mundo fictício mas faziam parte dele verdadeiramente.

Muitas vezes jogavam por dias a fio, a exemplo do criaredo da atualidade e seus videojogos, com a diferença de que, antigamente, os amigos estavam juntos de verdade, fisicamente e compartilhavam não somente vozes e indicações, como também bolachas, leite com chocolate, abraços de comemoração e zangas.

Reuniam esforços para chegar ao fim da aventura sem deixar que nenhum deles ficasse para trás, pois a exemplo da vida, cada qual tinha livre-arbítrio sobre suas ações, que eram sempre validadas pelos dados, a mão do destino.

No final de cada campanha, não havia cansaço que os impedissem de implorar ao Mestre por uma nova aventura e dessa forma passavam os verões, a aguçar a imaginação, trabalhar a leitura, a matemática e todas aquelas disciplinas aborrecidas que aprendiam na escola, de uma maneira natural e totalmente diferente. De uma maneira em que o conhecimento e o raciocínio lógico ficará gravado nos corações.

Para além disso reforçavam entre si os laços de amizade, carinho, respeito e responsabilidade que tinha uns para com os outros, aprendendo que para se chegar a algum lugar é preciso união e compromisso.

Enquanto não estavam a jogar, esticavam-se no sofá a comer pipocas e assistir “A Caverna do Dragão “ enquanto imaginavam se as crianças engolidas pelo portal que se abriu sobre aquela montanha russa, um dia retornariam ao seu mundo.

Daquele grupo se formaram pessoas fora de série, com um sentido de cidadania, justiça e empatia raras nos dias que correm. E ainda assim há quem diga que crianças e jovens não aprendem brincando!

 

Maria Beck Pombo

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