Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Do rascunho a redenção

Turistando Lendas e Lugares – Do rascunho a redenção

Opinião | 8 Fevereiro 2022

No meu caderno favorito eu guardo todas as histórias que não vingaram, todos os rascunhos que não chegaram a conhecer outros olhos que não os meus.

Guardo uma coleção de guardanapos e restos de papéis variados que abrigam frases aos pedaços escritas aos garranchos a pouca luz, debruçada sobre um muro qualquer no caminho de casa, na casa de banho, enquanto espero o sinal abrir, sentada à mesa de algum café.

Quando a Inspiração abre a cancela para as palavras, independentemente da hora ou do lugar, pois é redomona que desconhece amarras ou boas maneiras, apenas deixa a marca dos cascos pelo caminho por onde galopa, pisando as flores ou enterrando as sementes de forma a permitir o rebrotar da vida.

No meu caderno favorito eu guardo vergonhas e embaraços que se recusaram a sair da gaveta, protegendo-se da discriminação alheia, os desabafos impronunciáveis e ininteligíveis para a apreciação dos outros.

Guardo os preconceitos à espera de serem trabalhados e as ideias politicamente incorretas, os perdões que ainda não pude conceder, o asco por detrás dos sorrisos cordiais, que não fazem de mim propriamente hipócrita, apenas cortês. Preserva tudo que me afasta do modelo de perfeição reivindicado pelo mundo ao meu redor.

Nesse caderno eu guardo o direito de ser apenas humana, unicamente instinto, réles, pérfida, mesquinha e cruel.
 
É a incubadora para os sentimentos que não nasceram mortos, antes prematuros. O purgatório para as escolhas livres à espera de serem entendidas como lição e ascenderem a publicação.
 
O meu caderno preferido é a oficina onde me conserto e reorganizo, onde ensaio os meus passos rumo à perfeição inatingível.

O que há de mais perfeito na evolução é que ela transcende o tempo e o espaço, há que sempre andar para edificar, nunca para chegar!

Maria Beck Pomb0

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