O pai de família chega a casa, exausto depois de onze horas entre trabalho, árduo e braçal, e as deslocações para tal.
Vê as crias, que retrucam as ordens da mãe, e se apressa em condenar a mulher por não se fazer respeitar.
E quando ela tenta se justificar, fecha os ouvidos, eleva a voz, briga, esbraveja, afinal, ele acompanha, pela bola de cristal que possui, todo o dia-a-dia da esposa e dos filhos.
O pai de família senta-se à mesa e reclama do jantar, feito realmente sem muito boa vontade, apenas com o intuito de calar a fome e semear a paz.
Depois levanta-se da mesa, sempre a resmungar, encaminha-se para o duche e refila por não ter cuecas limpas, porém, sem reparar que elas estão cuidadosamente dobradas na gaveta, mas, o caríssimo senhor, não se deu ao trabalho de procurar com atenção.
A esposa se pega a indagar ao vento se em algum momento da vida terá ela tanta dedicação…
O pai de família briga com as crianças por estarem sempre à bulha, esquecendo que também assim andava com os irmãos quando guri, incluindo toda a sorte de asneiras que fez nesse tempo. Olvidou os puxões de cabelo, as vezes que partiu as bonecas às gurias, as bolas que estilhaçaram as janelas do vizinho e outras tantas perdidas em seu telhado, as lutas no pátio da escola…
Senta-se no sofá e exige silêncio para descansar afinal, onze horas de trabalho árduo merecem ser reconhecidas e recompensadas.
A esposa, bem, a esposa ainda tem muito mais o que fazer.
Limpar a loiça, tratar da roupa, varrer a casa, lavar, enxugar, organizar, banhar os miúdos, ajudar nos deveres, educar… e fazer tudo isso com as crianças, sempre a exigir sua atenção:
— Mãe, mãe, mãe!!!
Mãe é nome que não se gasta, mãe não tira férias, mãe é incansável, insuperável, insubstituível.
Muito embora o pai creia piamente que, na única hora que dedica a estar com os filhos, dá-lhes a educação que a mãe não dá nas dezasseis horas que passa ao lado deles.
Porque ele não vê, como poderia? Está fora de casa tempo suficiente para ser considerado um turista, e quando em casa está, viaja para outro mundo!
Ignora completamente as vezes que a mãe dá castigo, palmadas e, já no fim do dia, cansada e desesperada, as ignora, na esperança de que se entendam por si mesmas, pois isso também faz parte de crescer.
E é justamente nesse ponto que ele entra pela porta e conclui que a mãe é fraca, falta-lhe pulso, não se dá o devido respeito!
Então ela cala, farta de tentar convencer quem já está convencido de que ela não tem valor.
Pede coragem para abdicar, para partir, desamarrar-se e enterrar a esperança de ter um pai de família que queira uma família. Que queira ser homem, não simplesmente marido. Que não esteja presente apenas para criticar ou se servir de tudo o que ela oferece.
Porque quem cuida de alguém, merece ser cuidado também!
Maria Beck Pombo