Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Da liberdade de ser

Turistando Lendas e Lugares – Da liberdade de ser

Opinião | 15 Fevereiro 2022

Caminhava, sem pressa, pelo trajeto que realizava, dia após dia, rumo ao destino que apenas se alterava nos fins-de-semana.

Perdia-se a olhar o sol que penetrava entre os ramos e folhas de uma árvore que sempre chamara, particularmente, a sua atenção e assim, absorta, não pensava em absolutamente nada.

Apenas contemplava a beleza que se erigia contra o horizonte.

A chorar folhas e flores no correr das estações, a recolher graciosamente as gotas de chuva, quando chuva havia, e receber, inabalável, os açoites da Nortada, quando ela soprava, essa árvore, assim como muitas outras, são testemunhas silenciosas das vidas que por ali passam.

Expectadoras de beijos roubados e amores proibidos, de acidentes de trânsito e discussões acaloradas, de fugas incoerentes de animais de estimação, de correria, confusão e também da calmaria de quem apenas caminha a escutar os sons da natureza que a acolhe, ignorando o barulho ensurdecedor dos motores, exatamente como ela faz, todos os dias.

Erguem-se, imponentes e majestosas, contra o horizonte e estendem seus ramos em direção ao sol protegendo com sua sombra os transeuntes.

Não património arquitectónico mas vida que pulsa e experimenta a liberdade de ser livre, sem estar liberta.

Sem pensar no que se é, sem a consciência fatídica do tempo que consome a carne muito antes da casca.

Ah se nos pudessem contar os seus segredos!

Se nos pudessem ensinar que a eternidade não se alcança ao plantar edifícios desprovidos de raízes, que não agregam a terra, nem garantem o perpetuar da existência.

Orientando-nos a deixar de ser tão simplesmente humanos a reivindicar a divindade que não nos pertence ao exterminar a vida, conspurcar a terra, envenenar a água, empestar o ar e ignorar completamente a natureza de que somos feitos, sempre a clamar por mais tempo, esquecendo-nos de que não o podemos guardar ou comprar.

Ela fixa os olhos na estrada e percebe que o alvo dos seus pensamentos ficara para trás, faz uma prece ao Universo: que o homem possa perceber, antes do ocaso da última árvore ceifada para papel, que não comemos dinheiro! 

Maria Beck Pombo

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