Meu nome é Maria, como tantas outras.
Maria… da Graça, das Dores, dos Remédios.
Nasci numa manhã de outono, no Hemisfério Sul, em uma cidade de nome curioso com igualmente curiosas lendas. Filha de uma menina-mulher de sonhos despedaçados e de um taura incompreendido que partiu desse mundo cedo demais.
Graduei-me na Escola da Vida, com Especialização em Sentimentos. Conheço-os a todos, do mais nobre ao mais vil e os acolho, pois, sendo eles indomáveis e, por conseguinte, desprovidos de ética ou razão, são, todavia, inocentes e merecedores de respeito ou empatia.
Tive inúmeros professores, mas as mais preciosas lições que aprendi partiram de dois: meu filho e minha filha, mestres que acompanhar-me-ão vitaliciamente.
Ensinam-me o amor incondicional, a paciência, a transmutar, sublimar, aperfeiçoar. Mas acima de tudo ensinam-me a importância do desapego e da confiança no tempo, senhor de todas as coisas.
Sou fluente na língua do vento muito embora nunca tenha aprendido a assobiar. Mas sei cantarolar, mesmo que desafinadamente, algumas canções de embalar.
Tenho muita experiência em colecionar sonhos, marcar lembranças a ferro e, acima de tudo, domar tempestades. Para tal nunca me faltou o auxílio de Iansã.
Ofereço mãos, ouvidos, voz e colo a quem necessitar de abrigo, de coragem ou mesmo de ser chamado à razão, meu único compromisso é com a verdade.
Moro onde a Nortada faz casa e para me chamar basta gritar ao Minuano, chegarei montada no lombo da noite e partirei sempre com a alvorada.
Maria Beck Pombo
