As minhas mensagens são como filhas: depois de as parir enamoro-me delas.
Troco os vocábulos de lugar, como quem troca as fraldas, alimento-as do meu próprio seio…
Depois deixo-as ganhar o mundo, totalmente livres para a interpretação de quem as lê, pois somos construídos a partir palavras, inclusive das que não são ditas.
Mas como toda boa mãe, que lambe a cria e cura as feridas abertas, revisito-as de quando em vez.
Absorvo o seu significado e aconselho-as, indico-lhes o caminho, ajudo-as a reinventar-se e aponto-as, como flechas, para outros corações.
Domo-lhes os anseios, reorganizando as palavras, para não dar asas às más interpretações. Corrijo-lhes os enganos, realojo as vírgulas, troco-lhes os pontos.
Pois o mundo não testemunha aquilo que somos, não nos perscruta a alma, é incapaz de decifrar nosso espírito sem palavras, e é difícil encontrar sinônimo para não lhes chamar sempre pelo mesmo nome.
Somos todos um conjunto de conceitos que são inerentes à nossa vontade e àquilo que, internamente, é a nossa realidade. Somos constantemente analisados, julgados e condenados, não pela nossa essência, mas sim pelas nossas atitudes e pela maneira como escolhemos mostrar-nos a um mundo onde o parecer ser é mais importante que o ser de facto.
Por isso agarro-me às palavras. Estudo-as, memorizo-as, peço-as que traduzam exatamente o que sou, sem máscaras ou holofotes.
Apenas minha alma nua, carregada da luz e da fantasia das quais fora forjada pelos deuses.
É fundamental aprender que a maneira com que se diz, suplanta sempre a intenção do que foi dito!
Maria Beck Pombo