Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – Ann Reid

Turistando Lendas e Lugares – Ann Reid

Opinião | 20 Outubro 2023

 

Durante meses aguardara a visita da amiga, que viajaria do continente norte-americano para o europeu, na intenção de usufruírem por alguns dias da companhia uma da outra.

Um nervoso miudinho percorria o seu corpo e inquietava o seu coração: muita coisa se havia passado desde a última vez que estiveram juntas e poder-se-ia dizer, com toda a certeza, que a sua vida tinha dado um giro de 180 graus.

Estava longe de ser a Taberneira sempre pronta para uma boa noitada, a mulher livre de horários e de rotina, a não ser pelos que a sua própria taberna lhe exigia.

Agora era a Mãe que abdicara de toda essa liberdade em razão dos filhos e da família que construíra pouco depois de ter estado com a sua amiga pela última vez.
Receava decepcioná-la, verdade seja dita.

Temia perder a admiração dela, que sempre a vira como uma espécie de anjo, como se ela nunca se tivesse corrompido pelo ego, o que não era bem verdade, pois todo o ser humano é feito de luz e sombra, e ela não era diferente…

O facto é que nunca se conheceram em profundidade, pois a diferença de idioma e a distância consistiam num grande entrave para que isso acontecesse, mas uma energia muito forte as ligava, como um elo quase hereditário, como se o destino as pusesse frente a frente, ano após ano, na intenção de lhes mostrar algo que passava sempre alheio as suas vistas.

O facto é que a sua amiga chegou e, com a ajuda da tecnologia, puderam conversar mais intimamente uma com a outra, percebendo o porquê do Universo as reunir, entendendo que partilhavam de histórias muito semelhantes e ao mesmo tempo totalmente opostas.

Ela entendeu, então que aquela bela mulher, que nascera muito antes dela, era o Espelho do que ela própria seria se tivesse feito as escolhas que não fizera.
Aquela mulher era o seu “Se”!

“Se eu não tivesse partido para a Europa, se eu não tivesse casado, se eu não tivesse tido filhos ou investido naquilo em que acreditava…”

Creio que poucas pessoas têm essa sorte: a de encontrar o seu “Se” pelo caminho e poder descobrir como teria sido “se” tivesse optado por outro, ou por outros, pois a vida é uma rede de possibilidades.

Olhando então para aquela que era o avesso do seu espelho pôde entender que aquela pessoa entrara na sua vida a fim de ensiná-la a aceitar…

Aceitar ser amada, aceitar ser cuidada, aceitar ser admirada, sem sentir culpa por isso. Sem se ver como uma oportunista, sem sentir que estava a tirar vantagem de alguém.

A verdade por detrás de todos esses sentimentos é que deixou sempre que os outros tirassem vantagem dela!

Entregava-se de corpo e alma e se frustrava quando o outro não lhe entregava nada, apenas sugava, usava e abusava.

Mas ela deixava, não é mesmo?

Entendeu também que ela entrou na vida da sua amiga para ensiná-la a dizer não, da mesma forma que ela mesma aprendera um dia, pois via-se no lugar da mulher que viera ao seu encontro, naquele mesmo círculo vicioso que ela andava há alguns anos atrás, até conseguir quebrar os padrões e andar em linha reta em direção a um futuro promissor.

É maravilhoso saber que o Universo não só ensina mas também, por vezes, repete a lição até que a tenhamos aprendido!

Maria Beck Pombo

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