Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – A vida é um circo

Turistando Lendas e Lugares – A vida é um circo

Opinião | 17 Agosto 2021

“Respeitável público, bem-vindos ao maior espetáculo da Terra!”

Ah, quem não sonhou um dia em ser um artista circense?

Cruzar o mundo por terras e mares, conhecer gentes, plantar magia…

Quem não acreditou piamente que essas prendas e peões viviam em um universo fantástico, regados a rebuçados e purpurina?

Que andavam eles sempre em festa, libertos de qualquer responsabilidade ou rotina, ao sabor das vagas e dos ventos, preteridos pela dor e pela morte, contemplados com a juventude eterna?

Da arquibancada eu assistia, boquiaberta, a cortina a subir e rechear meu estômago com centenas de borboletas.

O coração quase que batia ao mesmo ritmo da música e meus olhos se iluminavam de contentamento.

No picadeiro uma dezena ou mais de artistas talentosíssimos divertiam e maravilhavam a plateia, faziam qualquer vivente pedir aos deuses que congelassem o tempo em nome de mais alguns minutos de espetáculo.

Enquanto exímios acrobatas arrancavam nossas preces ao desafiar a morte, o domador de leões arrancava os louvores dos presentes ao testar a coragem de qualquer humano.

Ria-me perdidamente dos palhaços e das suas quedas, sustos e piadas. Da maquiagem exagerada que traziam sobre a face, a ignorar completamente que ela era, muitas vezes, a mortalha das suas próprias amarguras.

Quantas vezes me imaginei a partir com o circo, sem saber que a incerteza era o destino das tendas recolhidas até o próximo paradeiro.

Apenas na idade adulta percebi que o presente é o picadeiro onde somos, ora o palhaço, ora o domador. Onde realizamos as mais fabulosas acrobacias para resolver problemas, onde a magia está dentro de nós mesmos e é capaz de plantar flores ou fazer desaparecer tesouros.

Percebi que o público que se ri da queda do palhaço é o mesmo que sustém a respiração quando o acrobata se lança ao ar sem redes de proteção.

E, afinal, descobri o que toda a gente tem em comum, independentemente de raça, credo ou posição social: o medo.

É esse medo que impele a humanidade a enveredar pelos caminhos do fantástico, a superar limites, derrubar barreiras, reinventar-se.

Para suportar as agruras do caminho, para atenuar as dores e a solidão.
Então cobrimos o nosso picadeiro com coloridas tendas, iluminamos e reunimos a plateia para o maior e mais belo espetáculo da Terra: a nossa própria vida!

Maria Beck Pombo

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