Atenta ela observava os rabiscos das crianças no papel.
Tentava, com muita curiosidade, perceber a escolha de cores, os traços, os significados que o pequenos davam às figuras disformes, aos borrões de tinta que manchavam a folha e pintavam, no imaginário dos miúdos, a sua família, casas, castelos, unicórnios e corcéis.
Sabia que cada reta, cada curva, cada dimensão, cada cor era a manifestação dos seus inconscientes na busca de extravasar suas emoções, e sabia também que aprender a língua que eles utilizavam para isso poderia lhes evitar muitas frustrações no futuro.
Os adultos deveriam aprender mais com as crianças, apenas dessa forma criaremos gerações de pessoas crescidas plenas, verdadeiras, cristalinas.
Se cuidássemos de percebê-las mais e as calar menos compreenderíamos que elas têm capacidades muito superiores àquelas que julgamos.
As crianças são lutadoras, são inteligentes, se desenrascam sozinhas. Somos nós que as infantilizamos ao longo do tempo, tolhendo as suas vontades e abusando, covardemente, do nosso tamanho para as subjugar.
Tão melhor seria conquistar o seu respeito ao invés do seu temor…
Por não levarmos as crianças em consideração é que o mundo está como está: povoado por pessoas malformadas, cheias de ódio e rancor. Prepotentes, presunçosas, que não sabem partilhar porque foram ensinadas a isso sob o cabresto e não por terem lhes explicado as razões e os benefícios que a partilha traz consigo.
Gente que responde com violência porque não sabe o que é amor, porque entendeu que o amor se demonstra com gritos, com pancadas, com castigos…
E há quem diga que elas serão o futuro da humanidade sem perceber que o futuro é agora, edificado pelos miúdos de outrora, ah, que presente triste o que vivemos!
As crianças só serão o futuro próspero da humanidade quando os adultos as ensinarem com amor, não com violência.
A paz semeia aquele que educa!
Maria Beck Pombo
