O mundo girava como um carrocel no interior daquela cabeça adolescente, no florescer dos seus quinze anos.
No rol dos seus infortúnios, os amores não correspondidos eram cavalos que se libertavam e cavalgavam noite adentro para longe do seu alcance.
Era comum atravessar as madrugadas a percorrer os caminhos da cidade decadente onde vivia, a observar os estudantes embriagados em frente aos bares, a presumir as intenções por detrás de cada bebedeira.
Facto era que ela, artista por natureza, refugiava-se sempre no mesmo lugar: na penumbra do corredor do edifício situado na Avenida Presidente Vargas, a cura para os males da sua alma se dava através da canção.
Naquele local sempre o encontrava após uma leve batida na janela, e voz e violão deixavam o velho apartamento para tomar o assento junto a ela e espantar a Solidão.
Como se cada nota que Ele reproduzisse, com a ponta dos dedos ou da língua, tivessem o poder de fazer do seu coração, antes tapera, querência.
E o tempo passava, sem passar… e revelava aos poucos a aurora que anunciava o momento da despedida, que nunca durava mais que um dia.
Foi dessa forma que, por anos a fio, construíram uma relação de amizade que lhes escorreu por entre os dedos, já na vida adulta, como as palavras que ganhavam o espaço ao sabor do vento.
Mas ficaram as memórias dos Oswaldos, dos Chicos, das frases de carinho e de incentivo. Das mãos amigas e do conforto que elas traziam, provando que aquilo que marca nem sempre pode ficar.
Algumas marcas não doem, fortalecem!
Maria Beck Pombo