Naquela noite, gelada e chovediça, me viestes.
Abriste-te inteiro, teu mundo… aos meus pés…
Em pés de lã eu pisava sobre as dores dos teus desamores tentando apagar-te delas as pisadas.
Naquela noite, embriagados e embalados por acordes dissonantes, fundimos em um, os nossos dois corações.
E furtaste-me a luz aos olhos, eclipsando eternamente o amor que não levara contigo.
Ai, como eu te abraçava, meu menino!
Enquanto vomitavas tu as tuas desventuras, os tortos caminhos desse aventureiro coração.
Os deuses sabiam o quanto eu te queria para todo o sempre em minha vida!
Larguei-te a mão na alvorada, com o coração em alvoroço e alvas esperanças do teu regresso iminente!
Pois sempre foste o revés a me desviar do meu caminho.
Mal fadado destino que fez de nós dedo e anel!
Vício e vontade, fuga e esconderijo… alívio e anestesia!
Pousei sobre as tuas ásperas mãos os meus sonhos mais delicados, embrulhados em estopa suja com a minha alma… e o teu suor!
O camafeu que até hoje guardas contigo!
Maria Beck Pombo, cronista e poeta...