Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – A luz que faltava

Turistando Lendas e Lugares – A luz que faltava

Opinião | 20 Setembro 2023

 

É chegado o dia em que as histórias sobre Ela ficarão guardadas na gaveta!

Hoje não esconderei sob a máscara da Outra a carne que é minha, a vida que escolho a cada momento, da qual me arrependo e me orgulho.

Vou partilhar com o mundo, em primeira pessoa, o destino que me faz querer viver e morrer, e ressuscitar depois de cada apocalipse pessoal, de cada luto, de cada batalha ganha ou perdida.

Depois de ter perdido a cabeça e os membros, de ter vendido a alma ao diabo e comungado com um deus qualquer, que no fundo são todos O mesmo, apenas não partilham o mesmo nome!

Hoje é um dia despojado de lamentos pois eles foram tantos nos últimos tempos que já não cabem mais em mim! Transbordaram da minha alma, inundaram a minha casa, afogaram a mim e os meus e foram dragados pela terra do jardim, que nutriu flores coloridas e frutos doces, quem diria?!

Não é de se espantar se lembrarmos de onde vem o adubo que alimenta os campos e dá de comer ao homem…

Eu era aquela que, na ânsia de afastar a Solidão, atraía o traidor e afastava o fiel escudeiro, que entregava o corpo ao veneno e ao pecado quando a vida pesava sobre as costas e a angústia me tomava o coração.

Eu era aquela que manipulava inverdades e lhes roubava o verdadeiro nome, que cobria de rosa os negros propósitos, que brincava às marionetas com os puros de coração…

Aquela que, lançada ao inferno centenas de vezes, era incapaz de confiar ser merecedora de alguma felicidade, e infligia no outro a dor que sentia quando tinha a visão tão turva pelas lágrimas que mal podia ver o verdadeiro remédio ao alcance da mão e que apenas eu poderia dar a mim e aos outros: Perdão!

Ao conseguir perceber algo tão simples, embora não seja simples de todo conseguir fazê-lo, paguei o preço pelos meus desatinos com juros e ainda mais!

Passei a me desconstruir, para depois edificar, a experienciar a mudança, ajustando algo aqui e algo acolá, aprendendo que integridade não é o mesmo que inocência, que existe apenas um facto mas cada um tem a sua razão, e que, acima de todas as coisas, nada torna um ser humano mais íntegro que ser leal a si mesmo, à sua luz e à sua sombra, mas que ao mundo devemos sempre entregar o que há de melhor em nós.

Eu sou aquela que traz os sentimentos à flor da pele coberta de borboletas, que entregou os punhais e perdoou as punhaladas!

E sempre houve quem dissesse que quem mente antes diz a Verdade, o que resta para mim que A disse tarde e fui injustamente julgada por covarde?

Resiliência! Essa palavra tão proclamada ao longo dos últimos anos, que até perdeu o verdadeiro sentido ao cruzar por tantas bocas…

Aprendi que ainda que a tristeza me arrebate, a descrença me tome, a cólera pelo meu corpo se espalhe, vou continuar a respirar cada vez mais fundo, buscando sempre o que tenho de melhor, resistindo à tentação de revidar o soco, superando a vontade de culpabilizar o outro, regenerando a minha fé em mim mesma, adaptando o meu amor ao amor que me entregam, sem amargar por não ter sido da forma que eu gostaria…

Eu sou aquela que foi atacada e que atacou, mas não se defendeu, apenas magoou quem não merecia tamanha mágoa.

Sou quem quase se perdeu na escuridão da maldade, quem quase, mesmo por um triz, congelou o coração e deixou o espírito empobrecer.

Mas tudo isso, não mais!

Hoje trago flores na alma e uma semente de amor-perfeito nas mãos, sei que ainda vou poder vê-la florescer!

 

Maria Beck Pombo

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