Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – A Inveja também é mestre

Turistando Lendas e Lugares – A Inveja também é mestre

Opinião | 23 Novembro 2021

 

Acordou pela manhã e, como é costume de quase todos os mortais na atualidade, deu uma vista de olhos nas suas redes sociais.

Na primeira página, impressa em letras garrafais, uma das maiores realizações da amiga amada resplandecia.

A Felicidade lhe estampou um generoso sorriso na face. Quantas orações ela tecera aos deuses para que a amiga tivesse o sonho concretizado, aliás, tecera por elas, as duas…

A navegar em sua mente esse último pensamento fez afundar o navio que trazia o sorriso em seus lábios…

Pôs os pés no chão, devagar, como quem quisesse ter a certeza de que ele se encontrava realmente ali e se levantou da cama a remoer a pergunta: porque não eu?

Essa pergunta escancarou a porta para a Inveja, que foi entrando despacito a se aninhar na sua mente e cobiçar seu coração.

Porque não eu? Porque não eu?

A pergunta ecoava em seus ouvidos e a tornava surda para todos os outros sons ao seu redor. Apenas conseguia ouvir a voz impertinente e esganiçada daquele sentimento que tanto repúdio lhe trazia, aquele sentimento que a invadia, de braço dado com a Vergonha, e a fazia tão pequena diante do mundo e dos homens.

Quis escrever para a amiga, parabeniza-la pelo feito, mas a Nobreza que ainda trazia dentro dela não permitiu que o fizesse, por uma simples razão: naquele momento faltaria Sinceridade em suas palavras, e isso não poderia permitir jamais.

Passou os dias seguintes a conversar consigo própria, a elencar as razões pelas quais a amiga conseguiu o que ela ainda não conseguira.

Ambas tinham modos muito peculiares de expor seus dons, mas enquanto a outra fez-se à vida, assumiu os riscos, lutou pelo que querida com Humildade e Perseverança, empenhou-se, ela esperou que a Conquista cavalgasse num cavalo branco até à sua porta e lhe propusesse matrimônio.

Apenas nesse momento é que conseguiu despir-se da capa da Soberba que nem desconfiava trazer sobre a pele.

É que os seres humanos, muitas vezes, estão tão concentrados em enxergar os defeitos dos outros que se esquecem de ver-se ao espelho.

Apesar de ter firmado o contrato de analisar a si mesma quantas vezes forem precisas até atingir o mais próximo possível do conhecimento do seu verdadeiro Eu interior, também ela, por vezes caía nesse erro.

Passou pouco mais de uma semana até que ela conseguisse domar a Fera que consumia a mente, mas nunca lhe chegara ao coração. Esse tinha como escudo a Generosidade e o Altruísmo, características que faziam dela uma pessoa Fiel e Leal a si mesma e aos outros.

Encheu-se de Coragem, ligou à amiga que lhe era tão querida e confessou o seu Pecado pois aprendera, desde tenra idade, que quem diz a Verdade não merece castigo.

Bem, é certo que isso não funciona para todas as pessoas, mas para essa sim, totalmente.

Aliás, disso poderia se gabar sem temer ser Presunçosa: após quatro décadas de vida tinha conseguido reunir um grupo muito seleto de pessoas, mais que especiais, aos quais podia denominar Amigos.

Essa amiga, que distância nenhuma foi capaz de apartar da sua vida, a via exatamente como ela era: uma obstinada aprendiz dos sentimentos, pois sabia que apenas os conhecendo é que saberia como lidar com eles.

E assim, com mais uma batalha vencida, pôde sossegar o espírito, com a certeza de ser exímio soldado a defender seus próprios limites.

Para dedicado aprendiz, qualquer sentimento é lição!

 

Maria Beck Pombo

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