Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares – A Escola da Vida

Turistando Lendas e Lugares – A Escola da Vida

Opinião | 3 Maio 2022

“Mãe, tens de me dar privacidade!”

Diz o “pinguinho” de gente que mal vira o avançar de sete primaveras.

A mãe, completamente incrédula com a insolência, exclama, com uma expressão que misturava espanto e graça:

- Sabes lá tu o que quer dizer privacidade!

- Sei sim, significa que uma pessoa tem o direito ao seu espaço pessoal.

Direito ao seu espaço pessoal?! Mas em que raios de escola essa guria anda a estudar?

Perguntou a si mesma enquanto sentia crescer no peito um orgulho da maturidade da miúda, agregado ao medo da força da personalidade que já se mostrava edificada.

Senhora da própria vontade, assim é desde que nascera, a rugir para o mundo tal qual um leão, fazendo valer o poder de persuasão que exercia sobre o ambiente ao seu redor, quando gritava a plenos pulmões.

A mulher, atónita, fora obrigada a retornar à infância para analisar se, na sua época, as coisas também funcionavam assim.

Lembrava bem do receio que as crianças tinham em “desafiar” a autoridade dos pais.

“Quando um burro fala, o outro baixa as orelhas!”, dizia seu pai quando ela fazia menção de o interromper, ainda que estivesse a ser injustiçada.

Hoje recebe da filha mais nova sermões acerca de Justiça, Direitos e Deveres, e tenta, desesperadamente, manter alguma hierarquia, muito embora tenha de concordar com a cria.

Sete anos! Tempo suficiente para que um ser humano já saiba a que veio!

Ai das mães que não conseguem acompanhar a mudança desses Tempos que correm sobre carris.

Que ainda pensam que tudo sabem acerca da vida, que julgam obter algum resultado ao usar dos mesmos métodos de outrora e que os filhos não têm nada a ensinar.

Hoje em dia ela aprende mais com os seus sobre Respeito, do que tenta ensinar sobre Autoridade, escuta mais e vê melhor, constrói uma relação mais baseada na participação mútua que na Soberania e que o exemplo vale mais do que mil palavras.

Enxerga, com olhos de ver, a vida que floresce sem estar moldada às suas expectativas, mais livre para fazer valer as próprias opiniões, satisfazer os próprios desejos e erigir seu próprio futuro, sem precisar de escoras, ainda que não abdique de porto-seguro.

Uma sensação de liberdade invadiu o seu espírito ao perceber que podia educar sem imposições, sem ser intransigente pois, afinal, as crianças têm uma capacidade de compreensão muito superior àquela que se julga.

Entendeu que pode se mostrar humana e sensível sem perder a credibilidade, antes pelo contrário, a ganhar a Confiança e, por conseguinte, o Respeito.

Desprendeu-se do “peso” de ser Mãe para abraçar a dádiva de ter um Filho e deixou de “padecer no paraíso”, passando a desfrutar dos seus encantos, rolando de mãos dadas no verde relvado que representa a Esperança de um mundo melhor.

Compreendeu, enfim, que ela e a filha não eram aprendiz e mestre e sim colegas a estudar em conjunto na Escola da Vida onde a prática ensina mais que a teoria!

 

Maria Beck Pombo

 

 

 

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