De todos os futuros possíveis ela, pessoa de rio e campo, nunca poderia prever que o destino que a aguardava era se casar com um português e morar junto ao mar, no outro lado do Atlântico, tão distante do seu pago natal.
Fitando a filha e o marido a brincar a beira-mar percebeu que nunca vivera tanto tempo em algum lugar quanto em terras lusitanas, e o país que deixara para trás já não se podia denominar querência.
Pensou em tantas fases que atravessara ao longo dos últimos quinze anos, altos e baixos, projetos que vingaram e outros tantos que não, sonhos que se transformaram em realidade, novos amigos e novas perspectivas, novas aflições e novas conquistas, mas principalmente na evolução que experimentara…
Sim, enquanto a lua mudava de fase vezes sem conta ela encontrava, despacito, a sua essência, despindo a fantasia que criara no passado para, de uma vez por todas, viver toda a plenitude do seu ser.
Agora um novo começo se desenhava no horizonte e lhe causava certa ansiedade, aquele receio de não ser suficiente ainda que tivesse a certeza de que nascera para ser estrela.
Os recuerdos bateram à porta da sua memória e a fizeram lembrar das pessoas que marcara ao longo da vida, em todas as vidas nas quais fizera a diferença sem sequer ter disso o conhecimento, que veio apenas depois de já não habitar o mesmo rincão e sentiu-se inundada pela paz e pela convicção de que tudo dará certo.
Enfim colhia os frutos das boas sementes que plantara, que todo o joio já tinha deixado para trás.
O que o tempo não leva, o vento semeia!
Maria Beck Pombo