Voz da Póvoa
 
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Turistando Lendas e Lugares

Turistando Lendas e Lugares

Opinião | 11 Fevereiro 2020

— “Manhê, quero uma fantasia de Corujinha para o Carnaval!”

 

Carnaval... A festa tão esperada por mim quando guria, quiçá até mais desejada que o próprio Natal.

A festa onde eu podia ser quem eu quisesse. Despir-me, por ao menos quatro dias, da Maria Rapaz desajeitada e cinzenta e encarnar a cigana colorida e encantadora, a exemplo de Esmeralda em Corcunda de Notre Dame.

Sim, porque as ciganas das bandas de onde venho são coloridas, vibrantes e maravilhosas, a promessa de bom agouro e liberdade para a mente das meninas mais sonhadoras.

Era nesse clima de descoberta e aceitação que eu adentrava o salão do Clube Comercial em Cruz Alta, travestida de cigana, a sentir o coração aos pulos e o corpo embalado pelas marchinhas de Carnaval.

Nega do cabelo duro, Mamãe eu quero, Cachaça não é água, O teu cabelo não nega, Olha a cabeleira do Zezé, A turma do funil, Maria sapatão, a exemplo das minhas favoritas.

É curioso como, naquele tempo, todos dançavam e cantavam alegremente em torno da pista de dança, a jogar confete e serpentina e sem importar se com o teor das canções... Tudo era alegria, magia e diversão. O salão era um templo bento de boas energias onde o preconceito e a maldade não podiam adentrar.

Carnaval de salão era assim no meu tempo, a mais perfeita oportunidade de fazer novos amigos ou chegar mais perto do “brotinho” há tanto desejado. Entrávamos na roda a abraçar pela cintura quem já lá estava e assim rodávamos pelo salão, ora em sentido horário, ora anti-horário, a depender dos comandos dados pelo vocalista da banda. Às vezes aventurávamos um “trenzinho” ou alguns passinhos solo, mas o bom mesmo era dançar na pista junto com todos, formávamos um grande organismo vivo, pulsante, brilhante e a transbordar de felicidade.

E a minha cigana vibrava, voava livre ao som da música e consolava o meu coração, que apagava-se aos poucos ao final de cada dia, à espera de uma quarta-feira de cinzas que chegava sempre cedo demais.

 

Maria Beck Pombo

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