Voz da Póvoa
 
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Será sempre o meu 25 Abril preferido

Será sempre o meu 25 Abril preferido

Opinião | 26 Abril 2023

 

25 Abril... Nunca cantei o Grândola, mas os parabéns ao meu tio. Era dia de festa, mas não de cravos. O convite já era assumido como certo para almoçar em família e depois vinham as tão esperadas correrias, as brincadeiras com os primos.

Lembro-me de o ouvir falar da comemoração e até torcer o nariz. Nasceu na data da Liberdade, mas ironia das ironias, não se identificava de todo. E porque haveria de gostar?

Irmão mais novo do meu pai e por isso com uma infância um pouco menos severa, nunca entenderam o que era a Ditadura. A preocupação, principalmente dos mais velhos, era cumprir as ordens do pai, do meu avô, que desde cedo os punha a trabalhar no campo.
 
Censura, represálias da PIDE? Não havia tempo para conspirações, nem perceber o que se passava na capital. As represálias eram as reguadas do professor por chegarem tarde à escola, ou não terem feito os trabalhos de casa, porque primeiro estava a lida do campo. Mesmo com 6 anos havia tarefas impostas, mas pelo chefe da casa, não pelo regime.

E Salazar? Era o "senhor" de Portugal a quem nunca tiveram vontade de fazer nenhuma revolução, porque os dias eram de trabalho para que nada faltasse à mesa. Com ele ou sem ele, a vida era a trabalhar no campo, escola, ao domingo a missa, respeitar o próximo e as Romarias anuais que transformavam em bálsamo. 

Como não perceber que os olhos do meu pai ainda brilhem quando conta que almoçou com Salazar. Um menino da aldeia chamado para "ajudar" nas vindimas em casa do Cardeal Cerejeira em dia de visita de Salazar, ser convidado para se sentar à mesa!?

Política? Cada um terá a sua e na aldeia os discursos são o cantar dos pássaros e as revoluções faziam-se com as enxadas. Ser dono da terra que trabalhas dependia do teu suor, dos teus braços.

25 Abril será sempre uma data importante. A data em que nos lembra que conquistamos a Liberdade de falar, de escrever, de pensar, como o faço hoje.

Mas a maior festa, a Festa mais bonita do 25 de Abril e que faco questão de não esquecer, mesmo que já não esteja entre nós .... Será sempre o aniversário do meu tio.

Fernanda Araújo, Jornalista

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