Voz da Póvoa
 
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Românticos e Realistas:

Românticos e Realistas:

Opinião | 10 Novembro 2025

 

Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco foram professos de diferentes “famílias” literárias, Camilo o romantismo e Eça o realismo/naturalismo.

Ao tempo, a rivalidade entre as duas correntes alimentou violentas polémicas. Porém entre os dois escritores a guerra foi mais ou menos surda. A. Campos Matos no livro “Eça de Queiroz Camilo Castelo Branco - A Guerrilha Literária”, assinala as circunstâncias e lugares onde os percursos de vida dos dois escritores se cruzaram:

Desde logo o facto de serem os dois filhos “naturais” e ambos terem crescido privados de carinho materno.

            “Eça nasce nessa vila” (Póvoa de Varzim) “e passa lá férias, quando estudante”.

Camilo era frequentador assíduo da praia da Póvoa e em Vila do Conde habitou “uma casa muito próxima daquela em que Eça deu os primeiros passos”.

Ambos casaram no Porto com dois anos de diferença.

Quanto ao estilo linguístico de cada um. Recorrendo a uma linguagem rica, cheia de floreados por vezes até barroca, Camilo descrevia atmosferas e sentimentos com o erotismo sempre a rondar.

Eça por seu turno utilizava uma escrita, trabalhada objectiva e realista, igualmente não alheia ao erotismo, onde a observação revestia caráter mais descritivo quase sociológico, encaixando-se melhor na atitude realista/naturalista de examinar o meio e as tipologias humanas.

Nesta altura, concordará o leitor, já exausto, que aprofundar os traços identitários das correntes literárias e as particularidades dos dois escritores, se afigura objectivo inatingível no presente formato. Contudo, na esperança de despertar vontade conhecer a obra destes vultos, transcrevo de seguida dois pequenos excertos com a curiosidade de ambos abordarem particularidades da anatomia feminina.

Excerto 1

“Uma formidável moça, de enormes peitos que lhe tremiam dentro das ramagens do lenço cruzado, ainda suada e esbraseada do calor da lareira entrou”. Eça de Queiroz A cidade e as Serras;

Excerto 2

A terra da Maia....é um alfobre de raparigas bonitas, com seios altos e alvos como pombos no ninho; os quadris elásticos e boleados têm saliências....”. Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho, O Comendador.

 

João Sousa Lima

 

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