Voz da Póvoa
 
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Respeitem os Professores, Carago!...

Respeitem os Professores, Carago!...

Opinião | 9 Outubro 2020

Vivi muitos anos entre os mundos futebol e ensino pelo que, inevitavelmente, me dou conta de inúmeras afinidades entre eles. Desde logo porque se comecei por me sentir como peixe na água no começo destas atividades, lá para as últimas etapas fui-as detestando mais e mais. Tornaram-se-me insuportáveis e se delas falo hoje será como forma de catarse, esperando todavia não exasperar o leitor/a.

Afinidades, no essencial, pela degradação a que ambas têm vindo a estar sujeitas, qualitativa como na disciplinarmente.
 
A qualidade no ensino (deixo as exceções, por exemplo a excelência de que as escolas poveiras têm dado provas anos a fio, nomeadamente nos exames nacionais) está sujeita à ditadura das percentagens, dos rankings, da campeonite proliferante. Desengane-se quem ingenuamente pensar que importantes são as metas educativas, para não falar já da mudança de mentalidades que a Escola supostamente estaria incumbida de perseguir.

E no futebol?! Essa mesmice enfadonha em que a maioria dos (nossos) jogos se tornou mede-se pela análise “científica” do jogo (tempo de posse de bola, transições … mais para os lados ou para trás que para o alvo, ataque organizado entremeado com “charutos” desconexos, esquemas táticos super-transitórios…).A salvar o entusiasmo que o jogo não tem, inventa-se o estratagema de dar ao espectador três (sim, três) comentadores do jogo que passa na nossa frente. E como o especialista espectador de sofá acredita piamente no “comentador especialista” de serviço, põe-se-lhe à disposição uma linha aberta… Truques…

Disciplina!... No (nosso) futebol?!.. Custa-me constatar (“futebolesmente” falando) que se há uns anos era “canela até ao pescoço”, agora são as “entradas por trás” que campeiam. Aquelas, ao menos, eram de frente, agora qualquer defesa cobardola vem e arranca pela raiz o avançado que está de costas. Entre nós ainda há tanto adepto fossilizado que partilha do rifão ”futebol não é para mulheres”! Pois não que não é! Há décadas que nos civilizados países do norte europeu o futebol feminino vai ganhando terreno. Mas isso (também isso) tarda em cá chegar… Entretanto, tudo decorre debaixo do olhar de um árbitro (a quem, só por ironia se costumava chamar juiz porque, está à vista, ele não manda nada, não decide senão minudências, o vídeo-árbitro, que também é árbitro (!) é quem detém as sentenças finais… não fosse ele o manipulador da “máquina” de toda a verdade. Estou convicto de que, se hoje jogasse futebol, me recusaria a alinhar a por/contra certos clubes primo divisionários. Ou houvesse bem mais precioso que a saúde… a começar pelos calcanhares. Sabem-no os fisioterapeutas.

Disciplina na escola?!... Nem me quero lembrar das desavenças pessoais com os “árbitros” de certas escolas por onde passei, também eles dominados por um poder que não se vê, mas que não deixa esquecer que ninguém pode ficar para trás, a meritocracia é ideologia perigosa, que reine a igualdade infinita de oportunidades…

A propósito de ambos os casos, vem-me à memória aquele dizer do ex-ministro da Educação quando lhe perguntaram que achava do estado da educação. Resposta pronta a sua: “Acho que há muita gente a achar”…

Chegados ao ponto em que árbitros (ou juízes, já agora!) e professores não têm mais autoridade que um GNR de província, resta-me concluir que me recuso a aceitar, pelo que contém de aviltante, que para se defender a integridade moral dos professores (a física já é tão vulgar que nos cansa) se seja forçado a escarrapachar em letras enormes, à entrada de várias escolas: ”Respeitem os Professores”! Não faltava mesmo mais nada que ser-se desportista à força, “carago”!

Alcino Santos - Professor

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