Voz da Póvoa
 
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Portugal/Macedónia: recordando Alexandre o Grande

Portugal/Macedónia: recordando Alexandre o Grande

Opinião | 30 Março 2022

A Macedónia é fraca mas tem muitos pontos fortes: submeteu a Grécia e deu Alexandre Magno ao mundo – Carlos Tê – Folha seca, O Jogo.

Macedónia traz-me Alexandre, um dos meus heróis da história antiga, além de Aníbal, o dos elefantes. Donde vem este fascínio pelo macedónio/grego? Da História do Mattoso? Do filme de 1956 de Robert Rossen com Richard Burton que dava alma ao herói? Mais recentemente, em Avranches, França, Agosto de 99, comprei o 1º vol. da biografia escrita por Valerio Manfredi, Alexandre Le Grand – Le fils Du Songe; os dois vols seguintes adquiri-os em edição portuguesa. Já o filme de Oliver Stone trouxe alguma desilusão pois Colin Farrell na pele do herói não convence; mas a vida amorosa do macedónio, que expandiu a cultura grega pelo oriente, aparece mais explícita. Não conheço mais alguma incursão cinéfila.

A trilogia de Mary Renault sobre Alexandre é a melhor que já li. Não se limita a descrever a vida, as conquistas, as batalhas, vai mais além, pois não se trata duma narrativa factual sobre Alexandre, mas antes, de uma narrativa em que os factos históricos são respeitados embora filtrados pelo ponto de vista do narrador. Mário Avelar, tradutor e autor do posfácio de O Jovem Persa – Assírio e Alvim – dá-nos um retrato da autora inglesa, muito impressivo: “Profunda conhecedora do universo histórico, político, cultural e geográfico em questão, Mary Renault jamais faz da narrativa uma exposição de erudição”. Da leitura, que me acompanhou durante uma estada em Porto Santo a fugir ao frio do inverno continental ressalta, na narrativa de Bagoas, o jovem persa, o conflito entre civilização e barbárie expresso através da dicotomia persas/gregos (Bagoas encontrar-se-á do lado civilizado).

O Jovem Persa, 2º vol. da trilogia, descreve a formação do império e termina com a sua morte aos trinta e três anos. Fogo do Céu, o primeiro, narra a infância e a adolescência de Alexandre que teve Aristóteles como preceptor; em Jogos Funerários, último, assistimos às lutas dos diádocos (governadores) na partilha das províncias do império que ia da actual Turquia até à Índia.

Bagoas é um jovem persa narrador da epopeia de Alexandre na conquista do império; em nota, a autora do romance refere que “Bagoas é a única pessoa explicitamente nomeada nas fontes como eromenos (adolescente do sexo masculino envolvido em relação amorosa com um adulto) de Alexandre”. No romance histórico é “rival” de Hefestion que “era seu amante (de Alexandre), parece que praticamente certo, embora em lugar algum seja de facto referido”. Bagoas foi eunuco favorito do rei persa Dario e, com a derrota deste em três batalhas, Isso, Granico e Gaugamela, fez parte do círculo restrito de Alexandre.

Como persa Bagoas faz apreciações pouco favoráveis dos “bárbaros” macedónios. Surpreende-o a proximidade de Alexandre com os soldados ao contrário de Dario, que não participava directamente na batalha e ocupava um trono distante da plebe, um cerimonial bastante rígido. As libações características dos macedónios também merecem comentários pouco abonatórios do eunuco, que nos transmite o que M Renault pensava sobre os hábitos vínicos do grande conquistador que alguns historiadores dão a ideia de dependência do álcool. Aliás, uma das teorias sobre a sua morte, é que lhe foi dado vinho quando já se encontrava com febre alta, entrando em delírio, o que pressupõe envenenamento. “… e a presença de um inimigo mortal como Cassandro não deve ser subestimada”. A hipótese mais provável é que foi vitimado por uma pneumonia para o que terá contribuído a perfuração dum pulmão provocada por uma seta. “A perda de voz aponta para a complicação fatal mais comum até à descoberta dos antibióticos: a pneumonia. A pleurisia é um resultado lógico da sua ferida maliana”.

Nota: as citações são do livro de M Renault, O Jovem Persa.

Abílio Travessas

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