Voz da Póvoa
 
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Por uma Nova Maioria para a Póvoa de Varzim

Por uma Nova Maioria para a Póvoa de Varzim

Opinião | 11 Maio 2024

 

Como a memória coletiva deve ser cultivada de maneira a conseguirmos perceber de onde vimos, onde estamos e para onde queremos ir enquanto comunidade, importa começar por fazer uma pequena contextualização histórica.

Em quase cinquenta anos de poder local democrático, a política poveira apenas conheceu duas lideranças. O CDS venceu as primeiras eleições autárquicas no nosso concelho, tendo mantido um poder hegemónico ao longo de treze anos.

No auge do cavaquismo, assistimos, um pouco por todo o país, a uma transferência de autarcas do CDS para o PSD, quase como se a vida partidária local se confundisse com a dos clubes de futebol. Na Póvoa, não foi diferente. Manuel Vaz, que liderava o município desde 1979 com as cores do CDS, acabou por ser o candidato do PSD dez anos depois, fazendo com que a transição entre partidos no poder se concretizasse com o mesmo protagonista. No fundo, uma evolução na continuidade, quando Aires Pereira se estreia como vereador.

Quatro anos depois, tivemos o verdadeiro grande confronto político na nossa terra. O incumbente PSD candidatava José Macedo Vieira. Independente, médico e dirigente do Varzim Sport Club que procurava manter o partido no poder perante um CDS forte. Aires Pereira continuaria a ser vereador e é aqui que surge a figura de Luís Diamantino que, antes de assumir o cargo de vereador, foi ainda assessor de Macedo Vieira.

O PSD acabou por vencer por poucos votos, sem maioria absoluta, tendo empatado em número de vereadores com o CDS. Este equilíbrio rapidamente se esfumou, dado que nas eleições seguintes, em 1997, o PSD assumiu-se como a força política hegemónica, passando a ser o “partido da Póvoa”, lugar que vinha sendo, desde os anos setenta, ocupado pelo CDS. Controlava, assim, todos os círculos do nosso concelho: políticos, económicos, culturais, religiosos e associativos. A eleição de 1997 também é marcada pela ascensão do Partido Socialista como segunda maior força política autárquica do nosso concelho, algo que perdura até aos dias de hoje.

Daí em diante, o PSD tem vencido sempre com maioria absoluta. Macedo Vieira acabou por sair em 2013, dando lugar ao seu eterno vice-presidente Aires Pereira. Agora, o eterno Aires Pereira prepara-se para dar lugar ao seu eterno vice Luís Diamantino, num padrão de continuidade, em que o vice passa a ser o candidato seguinte.

O resultado das últimas eleições legislativas comprovou que a vida política poveira pode estar a mudar. O PSD e o CDS (AD) acabaram por ter um resultado bastante modesto face ao aumento da participação eleitoral.

O CH foi o partido que mais cresceu, seguindo a tendência nacional, tendo sido o que aparentemente mobilizou os eleitores que normalmente se abstêm a irem às urnas. O PS teve também um resultado modesto, dentro daquilo que é a sua tendência no nosso concelho.

Nos partidos à esquerda do PS, é de assinalar o resultado do LIVRE, no entanto, esse espaço político está muito longe de atingir os resultados manifestamente positivos da eleição de 2015, onde o BE e a CDU foram, respetivamente, a terceira e a quarta maiores forças políticas no concelho.

Estas legislativas parecem indicar uma “tripolarização” política na Póvoa de Varzim entre a AD, o PS e o CH.

Com um PSD desgastado após 36 anos de poder, cuja única cola parece ser o recém-eleito presidente de concelhia e com o mesmo Aires Pereira a atingir a limitação de mandatos na Câmara, abre-se uma janela de oportunidades para as oposições.

O eleitorado estará mais atento à campanha e mais disponível para mudar o seu voto para um projeto político mobilizador, com propostas que respondam aos seus problemas e que consiga criar uma dinâmica de vitória ao longo da campanha. No fundo, estamos num momento de viragem, num momento de construção de uma nova maioria que consiga concentrar todos os que, dentro e fora dos partidos, acham que a Póvoa precisa de avançar nos próximos anos.

O avanço da Póvoa não será feito com aqueles que se propõem a fazer mais do mesmo e cuja conceção de renovação do partido passa por candidatar uma pessoa que ocupa o cargo de vereador desde os anos noventa.

Onde o PSD vê experiência e estabilidade, qualquer observador atento vê um grupo de pessoas repimpadas no poder, vê preguiça e vê incapacidade de abrir o partido a novas sensibilidades.

Quanto ao CH, para qualquer poveiro que ache que este partido pode ser uma alternativa séria para a nossa terra (não falando sequer naquilo que representam na vida política nacional), convido-o a assistir a uma sessão da Assembleia Municipal ou, dado que o PSD ainda não aceitou a gravação das sessões, que procure ler os registos em ata. Vão encontrar um partido sem visão e sem projeto, um partido profundamente anacrónico.

Resta o Partido Socialista. Pela sua natureza e pela sua herança democrática, o PS tem a obrigação de dar um impulso para a construção desta nova maioria. De liderar um projeto político refrescante, que mobilize todas as forças políticas e todos os independentes da sociedade civil que estejam disponíveis a colaborar numa mudança tranquila, mas que consiga concretizar as reformas que a Póvoa precisa.

Essa mudança só será concretizada se assinarmos um contrato que firme um compromisso com os poveiros. Um compromisso que garanta que um voto de confiança nesta nova maioria é uma vitória de toda a comunidade. Um compromisso assente em diálogo constante e transparência na tomada de decisão. Um compromisso por uma Póvoa que sabemos muito bem que pode ser mais do que aquilo que é.

Esse contrato tem de estar suportado em objetivos políticos concretos que sejam mobilizadores. Da Educação à Saúde, do Ambiente aos Transportes, da Economia ao Trabalho, existem imensas áreas onde há uma convergência nas forças políticas progressistas. Essa mudança só será possível se for construída uma candidatura cidadã que consiga agregar todos os partidos que querem o progresso da Póvoa de Varzim.

Tendo em conta a matemática eleitoral, são precisos 8,0% dos votos para eleger um vereador e cerca de 3,3% dos votos para eleger um deputado municipal único e, considerando o nosso sistema eleitoral autárquico, onde governa quem fica em primeiro lugar, é essencial a concentração de votos numa candidatura de convergência para definir a liderança das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia.

Perante tudo isto, enquanto poveiro preocupado com o futuro da nossa terra, faço um apelo para que o PS, PCP-PEV, BE, L e PAN se entendam pela construção de uma nova maioria.

 

Gonçalo Angeiras

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