Voz da Póvoa
 
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OS GRANDES REBELDES E OS POETAS MALDITOS

OS GRANDES REBELDES E OS POETAS MALDITOS

Opinião | 18 Janeiro 2022

O "voyou", o rebelde e o seu irmão, o palhaço, é aquele que foge do que normalmente prende os outros homens: escola, família, dever cívico, instituições, controle, religião.

A criança e o poeta passam as suas horas mais importantes nos domínios da imaginação e da faculdade criativa. O imaginário da criança é completamente livre, isento de responsabilidades, enquanto que a imaginação do poeta é plena de todo o sentido da vida. Jim Morrison traz-nos, nos concertos dos Doors, um ritual dionisíaco contemporâneo. Morrison e Rimbaud antecipam o caos e o apocalipse dos nossos dias.

"O poeta torna-se vidente através de um longo desregramento de todos os sentidos." (Rimbaud). Eis o caos interior e exterior. Eis o medo a dominar as nossas vidas. Eis a esquizofrenia global. Tanto Rimbaud como Nietzsche denunciam o cristianismo como a moral dos escravos. O bufão é a nova fusão entre Apolo, o deus da serenidade, e Dionísio, o deus da embriaguez. Rimbaud é o poeta-vidente, o vagabundo, o beatnick, o filho do Sol. É também o poeta-profeta, aquele que fala do Eterno, do deus que está presente em todas as criaturas. Rimbaud e Jim Morrison partilham o gosto por chocar e a denúncia do racionalismo. Há uma doutrina nietzscheana que diz que a arte é, ao mesmo tempo, resposta ao sofrimento e à celebração da vida. Allen Ginsberg fala em "anarquia alucinada". Eu tenho vivido isso. Para William Carlos Williams, os poetas são malditos mas não são cegos, vêem com os olhos dos anjos. Ginsberg experimenta tudo até ao âmago. Reclama tudo e ri-se de tudo. Tal como nós.

António Pedro Ribeiro, Sociólogo, poeta, cronista e muito mais…

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