Voz da Póvoa
 
...

Oliveira Martins, o historiador, o gestor e a Póvoa

Oliveira Martins, o historiador, o gestor e a Póvoa

Opinião | 17 Setembro 2022

 

Joaquim Pedro Oliveira Martins em criança sonhava vir a ser engenheiro militar da Escola Politécnica, porém a morte precoce do pai obrigou-o a abandonar o curso liceal e com apenas 13 anos teve de empregar-se numa casa comercial. A sua inteligência e capacidade de trabalho aliadas à experiência que foi adquirindo em diversas empresas levaram-no, aos 25 anos, a administrador de uma mina na Andaluzia. Após 4 anos regressa a Portugal, para dirigir a construção da linha férrea do Porto à Póvoa de Varzim e Famalicão – aqui está a ligação à Póvoa - tendo sido administrador da respectiva Companhia Ferroviária, fixou residência no Porto e fazendo amiúde o caminho até a Póvoa.

Depois de uma atribulada e mal sucedida passagem pela política, dedicou-se à escrita e publicou vários trabalhos de história, crítica literária, ciência política e sociologia embora a sua primeira obra - o romance Febo Moniz - tenha sido publicada muito antes em 1867.

A sua História de Portugal tem sido injustamente pouco conhecida talvez por ser uma abordagem “fora da caixa” como agora se diz. Procurando despertar a curiosidade dos leitores vamos usar as palavras de Oliveira Martins para narrar alguns episódios de “incêndios, morticínios” dos navegadores portugueses na Índia.

Concluída em 1498 a “descoberta” do caminho marítimo para a Índia, foi constituída uma poderosa frota que sob o comando de Pedro Alvares Cabral se dirigiu àquelas paragens com o intuito de estabelecer feitorias. Na importante cidade de Calecute, então designada Kalikodu, Cabral foi recebido em Setembro de 1500 pelo Rajã, como embaixador do monarca português que enviava propostas de alianças. Na pomposa e solene recepção os ”Portugueses vestindo as suas melhores roupas, as belas e polidas armas pensavam que facilmente se conseguiriam impor. “Mas os representantes da pobre e forte europa iam ficar deslumbrados com as magnificências da índia opulenta. O brilho das armaduras portuguesas foi ofuscado pelas resplandecentes pedras preciosas cujas chamas impediam a vista.” “Passada a recepção não foi fácil o entendimento das delegações, contudo foi concedido aos portugueses aquilo que pretendiam: a primeira feitoria na portuguesa na índia em Calecut”. No entanto os “mercadores mouros”, sustentáculo da riqueza dos rajãs reclamaram contra os portugueses intrusos que lhes prejudicavam os negócios. Foi assim que com o apoio dos hindus, atacaram a feitoria trucidando os 50 portugueses que lá havia”. Seguiram-se terríveis represálias, Cabral “tomou dez naus de mercadores árabes, passou a espada mais de 500 homens tripulantes e bombardeando a cidade, pôs-lhe fogo.” “Se as pedrarias tinham cegado os olhos dos portugueses agora as chamas cegavam os olhos aflitos do Rajã nessa noite de cruel memória.”

Vasco da Gama será o protagonista dos próximo episódios.

 

João Sousa Lima

partilhar Facebook
Banner Publicitário