Não é o mais alto desta “ilha dourada”, refúgio de inverno de velhos, não há que ter medo da palavra, reformados e nórdicos a fugir de frio agreste, mas também de gente do continente, nós das fraldas da serra e do mar da Póvoa, saudades contrastantes a este, praia de 9 km, sem um “penedinho” para cortar a monotonia, sempre tão calmo e de águas tépidas.
O Pico do Castelo é um cone vulcânico que albergou pequena fortaleza no séc. 16, lá tínhamos estado, há dois anos, viagem de autocarro, mas agora em aventura ciceroniada pela Ana, amiga portosantense, nascida na Madeira, que “ajuda” os aviões no aeroporto, chegámos ao topo, subida muito exigente para pernas já algo cansadas. Pior é descer por vereda ladeada por “muros emparelhados e contemplar a fantástica obra humana para a reflorestação da ilha” – Francisco Freitas Branco, Registos Insulares, livro que me trouxe muitos e variados ensinamentos.
O Pico do Facho, sobranceiro ao Pico do Castelo, vem-lhe o nome dos archotes acesos para aviso do povo de invasão pirata que fugia para estes dois montes. O Pico do Castelo, a sua posição central dava-lhe maior facilidade de organizar a defesa das pessoas, fazendo do local um verdadeiro castelo; mulheres e crianças que não conseguiam fugir escondiam-se em buracos fundos, as matamorras, utilizadas para guardar cereais. Nota adicional retirada deste livro que sigo: As invasões eram muito nefastas para estas populações desprotegidas, saqueadas e escravizadas – o mais violento foi obra de argelinos que só deixaram perto de 100 habitantes – mas franceses, ingleses e holandeses também.
No cimo do Pico está a estátua de homenagem a António Schiappa de Azevedo, nascido em Lisboa em 1870, a alma concretizadora da reflorestação de Porto Santo. Alguns dados sobre este homem, regente silvícola, que iniciou uma página de autêntica epopeia: a plantação de arvoredo no Pico do Castelo, depois nos do Facho, da Gandaia, Juliana e pico Branco. “Agora dá gosto passear pelo Pico do Castelo, andar a pé, escalar o pico”, diz FFBranco. Os serviços florestais construíram socalcos na vertente do Pico para aumentar a infiltração da água e reduzir a erosão do solo, ajudando uma melhor fixação das raízes das plantas; era difícil chegar aqui pela falta de água, carregada às costas mais a terra necessária.
Considerações do professor FFBranco, que dá nome à escola preparatória e secundária, no livro precioso, sobre o turismo de antanho, ficarão para outra ocasião.
Abílio Travessas