Esqueçam as direitas, as esquerdas, os radicais de uma e de outra, os centro-direita, os centro-esquerda, os liberais ou qualquer coisa mais ou menos, todos juntos valem a indiferença a que nos votam, a incapacidade para pensar ou fazer por nós, aqueles que os elegem como capazes.
A educação, a saúde, a cultura, aquilo que cada um precisou, precisa e deveria precisar para ocupar um lugar de mediação entre o que está feito e o que há para fazer, continuam a regredir como se fossem perigosas para a democracia. Um povo mais bem formado é tendencionalmente mais informado, logo mais exigente. Com melhores serviços de saúde, é mais produtivo e mais capaz. Com acesso à cultura, eleva-se a uma dimensão mais humana, mais capaz de compreender o outro e a si próprio.
O povo tolera os políticos, uma raça intolerante que por delírio, ócio ou respeitável beija-mão no negócio, anuncia o massacre ao suposto inimigo como único meio de parar a barbárie. Quando o fogo cessar não há mais nada para arder nem mais ninguém para apagar.
Se continuarmos a combater as alterações climáticas com mísseis e drones, o surreal se revelará num planeta B inabitável. Enquanto nós, os agentes poluidores não percebemos que os reagentes industrialmente pesados são mil vezes o nosso pior dos gestos. Separamos o plástico, o papel, o vidro, mas como reciclar o jacto particular, o avião, o foguetão e todos os carniceiros que se alimentam do sofrimento humano.
É o lusco-fusco de uma democracia onde a liberdade é uma ameaça e os direitos humanos eclipsaram na desordem global. E não vale a pena americanizar ou russificar o discurso da coisa. A culpa é nossa, somos nós os tolerantes convictos, a massa bruta, a única maioria que nunca foi capaz de governar.
Pablo Rios Antão