Voz da Póvoa
 
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O MAR SEMPRE DIFERENTE

O MAR SEMPRE DIFERENTE

Opinião | 26 Agosto 2022

 

Fim de tarde de finais de agosto. O mar agita-se num inconfundível protesto em ondas brancas e reflexos de poente. O vento sopra. Póvoa sem vento, não é Póvoa - dizem.

Para mim o mar tem sempre um estranho encantamento, um fascínio de azul e céu num contraste luminoso com a areia dourada. É segunda-feira, mas mais parece domingo.

Há ainda espalhados pelo areal alguns para-ventos que o vento enfuna, como o meu que bamboleia ao sabor do sopro forte dum vento norte. Na água, além na lagoa, apenas dois retardatários brincam desafiantes na água mais calma.

Sentada na cadeira baixa, simplesmente olho o mar sempre diferente. Ontem alterado, zangado, num cântico sinistro a desafiar o olhar dos veraneantes. Há dias um mar chão tão raro, tão límpido, tão azul e sereno que me desafiou a entrar nele. É assim, pouco mais que uma vez por ano! Por isso tenho de aproveitar cada vez que é leito e me convida a boiar para descansar a alma.

Amanhã abalo e, por uns dias, não vou olhar este azul, este sol de prata deitado na água a cintilar. Na minha janela cairá o por do sol, mas não o verei pousar no mar porque o mar não chega à minha montanha. Apenas o levo no coração. Aí ouvirei a canção do mar que hoje entra inteira na minha alma a fazer poesia na procura das coisas belas que o mar me dá. Lá terei as estrelas a coalhar a noite. Os pontos luminosos dos pescadores ficarão aqui a passear o caminho de prata que a lua traça.

A Póvoa tem sempre um chamamento luminoso e singular. 
O mar! Ontem, hoje, amanhã, sempre diferente.

 Donzília Martins

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