O homem-massa, o homem-rebanho da sociedade mercantil tende a perder a sua personalidade e a sua liberdade. Ele perde, ainda, a sua essência de ser humano, aquilo que tinha de maravilhoso, a sensação do eterno milagre da vida. Torna-se uma máquina vivente, um número, uma unidade, mera força de trabalho, robot guiado pela razão alheia, teleguiado pelos dirigentes da massa ou do rebanho, pelos patrões do Big Brother ou do Capitalismo da Vigilância. Deixa de pensar por si próprio, limita-se a reproduzir o que lhe mandam dizer ou pensar, passa apenas pela vida fechado na família ou no grupinho, uns risos aqui e ali, sem nunca questionar a máquina, sem nunca questionar o transe. Nada tem a ver com o homem livre, com aquele que se afastou do rebanho e da máquina, com aquele que goza com esta merda toda, que desce aos infernos e sobe aos céus numa só tarde, num só dia, mas que quer dar as mãos às mulheres e aos homens, àqueles que merecem. Aquele que é o menino e o grande bailarino. Aquele que escreve, sobe ao palco e incendeia. Aquele que aguarda os companheiros. Aquele que diz e que faz.
António Pedro Ribeiro – Sociólogo, poeta, cronista e muito mais…
