O artista tem que se identificar sempre com os furores colectivos do Universo. Tem de sentir o mundo, de vibrar com ele, de se excitar com o caos presente como se excita com a mais bela das mulheres.
Para Antonin Artaud, Cultura é ter consciência da natureza, é estar em união perfeita com ela, é ter consciência da unidade que o corpo e o espírito do homem formam entre si e com o cosmos; cultura é a magia mexicana e a medicina chinesa, é o esoterismo bramânico e a "ideia geométrica" através da qual todos os esoterismos reconciliam o homem com a vida.
Cultura é colocar as crianças no poder. É fazer com que tudo tenha as dimensões do sonho. É dizer não à trilogia "Pai, Pátria, Patrão", que serve de base à sociedade patriarcal e à canzoada fascista. Liberdade é abolir o economismo. O surrealismo é, primitivamente, o sonho de muitos com vista à salvação de todos. Artaud entende o intelectual como alguém que não tem que ter pena do povo, tem é que "fazer renascer as virtudes esquecidas de um povo que, por si, há-de civilizar-se".
Quem mais sente os efeitos da crise mundial é a juventude, que tem de acreditar na necessidade da arte. A revolução impossível é mesmo possível, desde que seja total.
António Pedro Ribeiro - Sociólogo, poeta, cronista e muito mais