"O artista que não abrigou no fundo do seu coração o coração da sua época, o artista que ignora ser um bode expiatório, que o seu dever é atrair a si, como um íman, fazendo cair sobre os seus ombros, todas as fúrias dispersas da época, de modo a livrá-la do seu mal-estar psicológico, esse não é um artista."
(Antonin Artaud, "Mensagens Revolucionárias")
É por desprezar o trabalho do espírito que o mundo moderno está arruinado. É por desprezar os filósofos, os artistas rebeldes e o saber ancestral dos xamãs que nos estamos a destruir nas mãos do capitalismo da finança e da vigilância. É pela falta de tempo dedicada ao espiritual, à criação e à reflexão aprofundada fora da pressa dos média e das redes sociais que nos estamos a perder.
Os intelectuais devem é compreender a utilidade funcional do espírito.
A revolução social e económica que desejamos deve ser acompanhada por uma revolução da consciência que nos permita sarar a vida. Queremos compreender a vida e as potências originais da vida, queremos penetrar o frémito fundamental da vida na sua totalidade. Para isso, segundo Artaud, temos de ir até ao sangue veemente das antigas raças e povos, às origens mágicas do espírito primitivo.
O homem de hoje está cheio de tédio e não encontra explicação para essa perda de gosto pela vida, para a falta de sentido da vida. A razão está em reduzir a vida a aspectos materiais: ao dinheiro, ao trabalho escravo, à competição, à sobrevivência. A humanidade necessita de um banho de juventude. É preciso encontrar as nascentes virgens da vida e a reconciliação com a Mãe-Terra.
António Pedro Ribeiro - Sociólogo, poeta, cronista e muito mais