Voz da Póvoa
 
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Nem tudo foram cravos (À memória de Nuno Manuel Polido Dionísio)

Nem tudo foram cravos (À memória de Nuno Manuel Polido Dionísio)

Opinião | 24 Abril 2024

 

A poucos dias do cinquentenário da Revolução de 25 de Abril de 1974, “recordar é viver” é um maremoto de memórias. “Perguntei por mim/quis saber de nós/Mas o mar não me traz tua voz”. E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho foi a primeira senha para a eclosão da revolução. Não sei se a pergunta teve resposta, ou se tão pouco o mar trouxe a voz da amada. Certo é que pouco depois era emitida a segunda senha. Cantada por José Afonso, Grândola, Vila Morena é o hino da revolução. ”O povo é quem mais ordena/Dentro de ti, ó cidade”, ainda é uma miragem. No entanto, o mito da Revolução Sem Sangue é quebrado no livro Esquecidos em Abril, de Fábio Monteiro. Foram seis os portugueses que perderam a vida nos dias 25 e 26 de Abril de 1974. São muitos as janelas rememoralistas. Convém recordar que muitos comunistas foram assassinados na luta pela democracia que abriu, pelo voto, a Assembleia da República a quem os quer esmagar. Evocar o Padre Max e Maria de Lurdes (UDP), assassinados em 1976, e o então bebé Nuno Manuel Polido Dionísio e a sua imensa inocência ceifado num atentado bombista confesso pelas FP/25 de Abril, em Évora, corria o ano de 1984, é regar a sangue os cravos de Abril. Recordar as 14 pessoas mortas pelas FP/25, entre 1980 e 1987,faz parte do processo revolucionário. Os mais de 600 mil refugiados, e não “retornados” do processo de descolonização são uma mancha na revolução dos cravos. E Sá Carneiro e acompanhantes? Se morreram num atentado não foi obra da esquerda. Quem praticou os crimes de guerra no Vietname sabe. Muito há para contar sobre o Estado Novo. Poucos saberão que durante o Estado Novo as professoras primárias precisavam de licença do Ministro da Educação Nacional para casar. Custa a acreditar que usar isqueiro na via pública só com uma licença anual emitida pelo Ministério das Finanças. ´Muitos mortos continuam vivos. Viva a liberdade. Viva a democracia.

Ademar Costa, cronista e poeta…

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