
No primeiro semestre de 2025, a CP transportou mais de 100 milhões de passageiros, impulsionada sobretudo pelo Passe Ferroviário Verde (PFV), com mais de 390 mil adesões, um aumento de 133% nos Regionais e de 48% nos Intercidades, e receitas em alta (+1,6%, cerca de 130 milhões de euros). O PFV demonstra que, quando o transporte coletivo é acessível, há uma maior adesão, contribuindo para a viabilidade da rede e evidenciando o potencial económico do investimento em mobilidade.
Esta experiência reforça também a importância de repensar a articulação territorial no Norte do país. Corredores como Póvoa de Varzim-Famalicão, atualmente desativado e convertido em ciclovia, representam uma oportunidade para dinamizar a economia local, aumentar a oferta de transporte e criar pólos de atividade capazes de impulsionar o comércio, os serviços e, consequentemente o emprego. Tal como sugere o modelo Node-Place de Bertolini, os territórios que combinam acessibilidade (nó) com qualidade urbana e diversidade funcional (lugar) tendem a beneficiar de um maior desenvolvimento económico.
De acordo com a Resolução do Conselho de Ministros n.º 77/2025 de 16 de abril de 2025, que aprova o Plano Nacional Ferroviário e determina à Infraestruturas de Portugal, S.A, a avaliação de investimentos ferroviários prioritários, no Sistema de Mobilidade Ligeira do Cávado-Ave existem dois troços desativados suscetíveis de reaproveitamento em soluções evolutivas: Póvoa-Famalicão e Guimarães-Fafe. Sistemas como BRT (Bus Rapid Transit), Metro-Bus ou Tram-Train poderiam ligar Braga, Guimarães, Famalicão e Porto, assegurando a continuidade da rede (Figura 1).
Um corredor Porto-Braga integrado seria viável, reforçando a interligação urbana e regional, e constituindo um investimento estruturante na coesão territorial e na revitalização económica da faixa litoral norte.
Trabalhar na mobilidade implica refletir sobre as interações urbanas, garantindo que os cidadãos possam aceder aos centros urbanos sem obstáculos.
A ser viável, poder-se-á demonstrar que, ao investir na mobilidade coletiva, podem ser alcançados dois objetivos essenciais: dinamizar a economia local e reduzir o congestionamento rodoviário, preparando o território para a próxima década de desenvolvimento.
O desafio consiste em desenvolver uma rede de transportes coerente e devidamente coordenada entre os municípios e a Área Metropolitana do Porto (AMP), a considerar nas propostas de revisão do Plano Diretor Municipal em curso. Esta rede deve garantir a integração, a acessibilidade e a sustentabilidade, assegurando simultaneamente a sua viabilidade – aproveitando, por exemplo, medidas como o PFV.
Por isso, reintegrar o corredor Póvoa-Famalicão, como contributo para a ligação Porto-Braga, na rede ferroviária seria, mais do que uma decisão de gestão da mobilidade, um investimento estrutural na coesão territorial e de revitalização económica.
Jorge dos Santos, Engenheiro Civil