Voz da Póvoa
 
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In memoriam: João Branco, O Cara d’Aço, júnior do Varzim

In memoriam: João Branco, O Cara d’Aço, júnior do Varzim

Opinião | 10 Novembro 2020

Vou recordar o João, agora que nos deixou, com um jogo que não esqueci, nem ele. Veremos porquê.

De Lisboa regressei, sábado, duma semana a fazer exames médicos de admissão a um Curso de Oficiais Milicianos Paraquedistas. Cheguei a casa oito horas de comboio depois até ao Porto e camioneta do Linhares, à uma da manhã para Póvoa. E até Aver-o-Mar? Não sei como lá cheguei.

Domingo recebíamos o Futebol Clube do Porto, mais assistência do que em muitos jogos de agora. Já ninguém me esperava, não tinha dado notícias por uma semana. Às nove horas lá estava, de bicicleta pela beira do mar, fieiro do lado esquerdo desde as últimas casas da freguesia de Aver-o-Mar até ao estádio.

A equipa adversária chegou sobre a hora, já equipados, fato de treino azul reluzente, o nosso balneário não lhes era digno. Perdemos 3 a 0, a exibição, individual e colectiva, mereceu destaque no Comércio da Póvoa. Do jogo ficaram-me dois momentos: na baliza sul, um remate de fora da área para o meu lado esquerdo que defendi, em voo, com a mão direita, gesto pouco comum à época; e um golo na minha baliza marcado, superiormente, de cabeça, pelo João que fazia dupla com o Ezequiel Veloso. A equipa do Varzim era habilidosa e recordo o Leonardo, o Hildebrando, o João Rocha, o Faria, o Luís e o Cachoeira de Vila do Conde, o Assunção …

Saudade duma juventude que treinava manhã cedo e ia ao Guarda-Sol tomar o pequeno-almoço e onde comi o primeiro yogurte. Saudades agora do João com quem privava quase diariamente nas férias na sua oficina de bicicletas, local de conversa e convívio dos muitos amigos, ali ao lado do Zé das Letras. A oficina contrastava com as modernaças Bike Shops – permitam o anglicismo para maior contraste - mas tinha vida e calor humano no aparente caos, chão negro do óleo e do trabalho. Adepto do FCP – depois do Varzim – guardava fotografias dos tempos dos juniores e das reservas, tempo de Mestre Pedroto quando treinador do Varzim.

Fica a saudade e a memória, dele e dos que vão deixando o nosso convívio, os horizontes cada vez mais curtos.

 

Abílio Travessas

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