
Nem sempre a Verdade se revela nua e escancarada ao expectador…
Algumas vezes ela se mostra, arredia, através de um sussurro, de uma frase que vacila, de um olhar que tropeça e desperta a atenção d’alma, essa observadora silenciosa, que tem o dom de reconhecer o que ainda não foi dito.
Fora dessa forma que Ela percebera, sem alarde, que a Inveja visitava o coração de uma pessoa querida.
Não fora um sentimento declarado, apenas um sopro tênue, desses que a Intuição carrega nos ossos, trazendo consigo um desconforto que estava longe de ser de desapontamento, pois ali não havia deslealdade, mas o aperto singelo que chega quando percebemos que alguém que amamos está em luta consigo mesmo.
A Inveja, sabe Ela, é humana. Tão humana quanto a sede, quanto o Amor, quanto a Loucura…
Crescemos a tratá-la, como falha de caráter, como doença crônica moral, enquanto, na verdade, ela não passa de um espelho que reflete com precisão cirúrgica aquilo que nos falta curar.
O sentimento em si não Lhe doera, mas sim imaginar a pessoa querida presa naquela teia de dicotomias, amarrada entre questões como: “por que ela?” e “por que não eu?”. A travar uma batalha silenciosa onde o inimigo é a própria voz, arqueando sob o peso que carrega sozinha, crendo ser imperdoável aquilo que é simplesmente natural.
Sem perceber que todos estamos sujeitos aos mesmos ventos, ora brisa, ora tempestade. Que sentir não é crime: é condição imposta pela própria Criação que nos destinou a evoluir através da experiência.
Porque a Inveja não precisa ser tratada como vilã, isso Ela aprendera no decorrer dos anos. Pode ser encarada como ferramenta, como um convite para quem A sente compreender a própria essência, reconhecer as próprias necessidades, abraçar a sombra e transformá-la em luz.
Sentira um profundo desejo de dizer-lhe: “tudo está bem.”
De mostrar que podiam alcançar juntas, sem competir. Que as bênçãos que chegavam não eram medalhas, que não havia primeiro lugar, mas sim a mão estendida para ajudar a alcançar o próximo degrau.
Talvez a amizade seja isso: acolher, junto da alegria, do abraço, do afeto, também as sombras que cada um carrega, já que a humanidade do outro, mesmo quando nos desconforta, é irmã da nossa.
Pois ninguém deve ser condenado pelo sentimento que o atravessa, e sim absolvido pelo cuidado com que escolhe transformá-lo!
Maria Luiza Alba Pombo