Voz da Póvoa
 
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Hanoi debaixo de bombas, Kiev debaixo de bombas

Hanoi debaixo de bombas, Kiev debaixo de bombas

Opinião | 24 Março 2023

 

Padre António VieiraÉ a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas …

Prefácio de Bertrad Russel, Nobel da Paz, ao livro de Wilfred Burchet, Hanoi sous les bombes:

“A guerra que os EE UU fazem contra o povo do Vietnam é certamente uma das mais brutais que a memória dos homens conheceu…

O povo do Vietnam é um pequeno povo agrícola pouco industrializado. Apesar disso os EE UU lançaram sobre a metade deste pequeno país agrícola que é o Vietnam do Norte, durante os primeiros nove meses de 1966, mais bombas do que em todo o Pacífico durante a 2ª Guerra Mundial. É a atrocidade suprema”.

Países que apoiavam os Vietnamitas na sua 2ª guerra de independência (na 1ª guerra da Indochina, os franceses colonizadores foram derrotados na batalha final de Dien Bien Phu): a vizinha China de Mao, a União Soviética e apoios logísticos no Cambodja e no Laos. Estávamos em plena Guerra Fria.

Ponhamos a Ucrânia actual no lugar do Vietname dos anos 60/70 e a Rússia  no papel dos EE UU e vemos a guerra  a repetir-se, aquele monstro de que falava Vieira no séc. 17. Agora, o agressor/invasor, a Rússia, é apoiada pela Bielo-Rússia e o Irão, o invadido tem o apoio dos Norte-Americanos e da maioria dos países da EU.

A história continua a repetir-se: os americanos tiveram a chacina de Mi Lay (nós, em Moçambique e não só, Wiriamu). As tropas russas têm deixado crimes de guerra, Butcha é a cidade mártir mais conhecida, crimes que serão julgados no Tribunal Penal Internacional, veremos…

Não sabemos, ainda, a quantidade de bombas, drones, mísseis que os russos despejaram sobre a martirizada Ucrânia mas sabemos que, segundo B Russel, “o camponês vietnamita suporta(ou) 2 000 toneladas de bombas por dia, bombas de napalm e de fragmentação …”

Das torturas não há nada de novo sobre a terra. O insuspeito New refe York Times escreveu: “Um dos métodos de tortura mais abomináveis é a electrocução parcial – “a fritura” – segundo a expressão dum conselheiro americano”. É cedo para percebermos a dimensão destes crimes na Ucrânia mas civis com as mãos atadas, sinais de tortura e execução sumária serão a ponta do iceberg deste horror que chegou à velha Europa.

Já nos esquecemos que os “hospitais eram alvos a considerar. O Norte do Vietnam é bombardeado sistematicamente. Hospitais e sanatórios são submetidos a um ataque consciente e constante” – B Russel. Nada de novo no conflito actual, as imagens diárias nas televisões são disso testemunho.

Para não ficar no esquecimento: durante as conversações de paz entre Kissinger e Le Duc Tho em Paris, esquadrilhas de fortalezas-voadoras B-52 “regavam” o Vietnam do Norte com mais bombas do que as que tinham sido lançadas durante a 2ª guerra mundial.

 

Abílio Travessas

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