Já não tenho cabeça para a memória e esqueci como funciona. Liguei para as avarias e aconselharam-me um psicanalista, mas é o contrabandista que alinha a carteira e o meu curriculum.
Está tudo doido, já ninguém nos olha na carne, só pelo Facebook. A felicidade envergonhou-se em casa e a tertúlia está em desuso. Olho no rectângulo da cabeça, o telemóvel tem pescoço. No pulso o colarinho fica bem, não sei se a gravata também.
“A Cobrição das Filhas” não originou “A Desumanização”, mas são poemas do mesmo autor.
O Governo quer-nos Online, mas estamos quase todos off.
Desligado apetece-me ligar ao mundo, explicar-me primitivo, da idade do fogo que ainda arde, infinito enquanto dura, como o amor do Vinícius.
A maçã com bicho é vitamina. Sem, contamina.
Fruticultura industrial, agricultura igual.
O Brasil voltou à normalidade, 25 mortos em operação policial numa favela no Rio de Janeiro. Há quem precise de um inquérito para contá-los.
A terra podre na cimeira dos doze, a definhar na recolha porta a porta, a indústria do plástico, do vidro, do papel, o indiferenciado antibiótico da horticultura, enquanto o insecticida mata e envenena o futuro a uma velocidade freática, sem qualquer controlo.
A pegada ecológica, antológica, morfológica e a lógica é deixar regressar o bicho à maçã, o piolho à folha e a abelha ao pólen.
A vida é puro mel e este vinho não sabe a rolha.
Pablo Rios Antão