Voz da Póvoa
 
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Esclarecimento

Esclarecimento

Opinião | 18 Outubro 2019

O abaixo-assinado que circulou na Matriz não diz respeito ao abate de árvores. Diz respeito às obras de requalificação que ali serão realizadas. O abaixo-assinado não se manifestou contra as obras, nem contra a Câmara, nem contra o presidente e demais pessoas, mas sim contra a supressão dos estacionamentos e mudança de direção do trânsito, alterações estas impostas sem nunca terem sido consultados os moradores da referida zona.

O abate das árvores foi um assunto diferente que questionamos, três ou quatro modestos munícipes, através da moradora que falou com a senhora vereadora referida na notícia. O pequeno aviso que colocaram nos carros estacionados naquela zona não referia “substituição” das árvores, mas sim “abate”. Ficamos desconfiados desta ação porque já antes tinham cortado uma árvore do mesmo largo e outra na pequena rotunda junto à Beneficente. E não é para menos. A senhora vereadora diz que as árvores serão substituídas, mas o saldo dos arranjos urbanísticos, no que diz respeito a árvores, tem sido claramente negativo. Veja-se o exemplo da avenida Mouzinho ou o do largo na igreja da Lapa. Neste caso recente, da dúzia de árvores e duas palmeiras que lá havia, ficaram apenas seis. O saldo é negativo.

Obviamente, todo este histórico e o “modus operandi” leva-nos a concluir que, infelizmente, todos os novos arranjos previstos para outras zonas irão contemplar menos árvores. É também o que se prevê que aconteça às tílias do mercado. Tudo isto não está de acordo com o que a senhora vereadora diz quando refere a sustentabilidade ambiental e a descarbonização do território como premissas do Município. E por, em caso de acidente, não nos ser a nós imputada a responsabilidade, isso não nos impede de questionar o corte de árvores. Assim, dispensamos a condescendência e as explicações técnico-cientificas da senhor vereadora, pois não nos passa pela cabeça a ideia da Câmara se propor abater árvores sem as devidas análises.

Não colocamos em causa a Gestão Urbanística Preventiva nem questionamos que uma árvore doente seja cortada. Por si só, o nome pomposo da Gestão não faz nada. Prevenir não é cortar tudo. O que questionamos é a oportuna doença que atacou todos aqueles plátanos. A arquitetura dos arranjos urbanísticos não tem que forçosamente eliminar todas as árvores que há nos espaços a requalificar. Os arquitetos fazem o que lhes pedirem. No Porto, no jardim do Marquês, os arquitetos conseguiram fazer brotar, no meio de mais de 40 plátanos, uma estação do Metro. Este passa por baixo e, até ver, não os danificou. E os poucos plátanos que foram cortados também foram substituídos. Eis um saldo que é positivo.

Diz a senhora vereadora que as árvores foram alvo de podas agressivas ao longo dos anos. Quem as podou? Poderiam ter sido corrigidas como o foram os plátanos da rua da Biblioteca Municipal, permitindo agora que os plátanos cresçam em altura. Também foi dada uma nova forma às árvores da rua em frente ao Liceu. Por que não fizeram o mesmo nas da Sra das Dores? Também constatamos que as árvores que não são cuidadas são abatidas mais tarde. É o caso, por exemplo, de três plátanos no Largo das Dores. Têm uma qualquer doença no tronco que alastra a toda a árvore. Talvez haja produtos para minimizar a doença. Caso contrário, mais tarde ou mais cedo, também vão acabar por ser abatidas. No mesmo largo, há um canteiro vazio, lugar da morte de um outro plátano que secou, vítima do mesmo mal dos outros. Este plátano ainda não foi substituído. Outra árvore que lá plantem será mais uma a contribuir para a tal descarbonização.

Concordamos quando a senhora vereadora refere que os arranjos embelezam a cidade. É verdade. A cidade fica mais bonita. É verdade. Mas também somos de opinião que algumas obras devem ser pensadas mais devagar. O que interessa que se arranje uma rua se os moradores saem prejudicados? Os arranjos não são também para quem lá vive? Os munícipes não podem ter direito a espaços verdes ao pé das suas casas? Noutros tempos, também se agiu muito depressa e isso não deu bom resultado. A rua da Junqueira e a avenida do Banhos já tiveram outra configuração e, na altura, os edis da cidade também julgaram estar a fazer o melhor para o município.

Em tempos de alterações climáticas, toda a atenção é pouca. O discurso não é nosso. Deve ser de todos. É um problema mundial a que também a Póvoa deve estar associada. Pode haver pequenas amazónias aqui e ali, pequenos oásis no meio das cidades tão fartas de poluição. A rua Paulo Barreto, ao lado da Câmara, não cheira propriamente a rosas. Os prédios estão negros e não é do oxigénio que as árvores produzem. Confirme a senhora vereadora, no Google Earth, que desde o rio Ave até Apúlia, a poente da A28, não há espaços verdes dignos deste nome. Lembro que as árvores podem até ser um atrativo turístico. Em Ponte de Lima, a chamada Alameda dos Plátanos, com classificação de interesse público, é um conjunto de 83 plátanos de que os Limianos muito se orgulham. O agradável arranjo daquela zona, realizado pela Câmara, não necessitou de abater nenhum dos exemplares.

Cumpre-nos questionar o poder, principalmente quando ele é absoluto. Nós interrogamo-nos sobre estas matérias a que somos mais sensíveis, outros interrogar-se-ão sobre outros temas. Não fazemos parte da metade da população da Póvoa que não vota. Desejamos que haja uma reflexão acerca das árvores e espaços verdes da Póvoa, terra querida.

Jorge Alves Ferreira

 

 

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