Voz da Póvoa
 
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Da vida apenas se leva a vida que se leva!

Da vida apenas se leva a vida que se leva!

Opinião | 6 Junho 2023

 

Em frente ao clube de natação situado à beira-mar, conversava com a mamã de uma colega da filha, enquanto esperavam o fim da aula das crias.

O assunto era de profundo sentido, como era de costume entre as duas: falavam sobre o envelhecer, sobre as características das pessoas que se intensificam com a velhice.

Na verdade falavam mais especificamente sobre a maldade que alguns idosos desenvolvem ou mostram com o passar da idade, com o revelar despudorado do egoísmo, da possessividade, do poder de manipulação alheio que passava despercebido aos mais próximos em tempos remotos.

Demoraram-se um pouco a divagar se todos os seres humanos estão fadados ao mesmo destino e acabaram por recordar outros idosos que eram doces, ternos e bem intencionados nos seus anos finais e chegaram à conclusão de que o passar dos anos traz consigo a queda de todos os filtros que permite expor qualidades (e por qualidades leiam-se defeitos e virtudes) ocultos dentro de si.

Qualquer defeito pode ser transformado em virtude, mas isso exige empenho e coragem para despir a máscara em frente ao espelho, demanda determinação e força para transmutar, para agir eticamente, honradamente, para aprender que estamos sempre a aprender, que devemos estar abertos a aprender e que nunca seremos perfeitos mas jamais deveremos parar de buscar a perfeição.

Uma pergunta jogada ao ar fora totalmente pertinente no momento: e em que momento as pessoas podem pensar sobre essas coisas?
Não podem…

E é exatamente por esse motivo que o mundo está como está, é por esse motivo que a tecnologia evolui enquanto as pessoas perdem a humanidade dia após dia.

É porque se tornaram autómatas, meras engrenagens a mover um mundo cuja essência se dispersou, onde se dá mais valor ao papel do que à árvore que o fornece, onde andam às voltas com compromissos que impõe a si mesmos, sempre em busca de mais bens que, curiosamente, não levarão consigo quando forem ceifados da terra.

De manhã à noite correm ligados ao automático para levar a cabo as tarefas cotidianas e quando, finalmente, adormecem o cansaço é tão grande que muitas vezes sequer conseguem sonhar, quanto mais raciocinar sobre as suas próprias vidas.

E nesse cavalgar atravessam estações sem conseguir evoluir, mostrando os defeitos que não trabalharam ao longo da vida por terem esquecido que o que tinham de mais precioso era aquilo que perderam: o Tempo!

Maria Beck Pombo

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