No século XIX as famílias abastadas empregavam as chamadas criadas de servir. Eram jovens mulheres sem alfabetização, oriundas das classes sociais mais baixas de zonas rurais.
Começavam a “servir” como criadas ainda crianças, viviam em casa dos patrões, em pequenos quartos ou áreas de serviço, frequentemente sujeitas a assédio moral, físico e sexual.
Nas longas jornadas de trabalho a que estavam obrigadas, asseguravam a lida da casa que incluía varrer, esfregar e encerar os soalhos, arear os metais e as pratas além de lavar e engomar roupa, cuidar das crianças e dos idosos da casa. Tudo isto em troca de um ínfimo ordenado em que muitas vezes, nem sequer tocavam, pois seguia diretamente para os pais com quem tinha sido feito o “trato”.
No contexto da obra de Camilo Castelo Branco, as "criadas de servir" apesar de serem retratadas como figuras secundárias não são meros adornos da narrativa, antes incorporam: valores e atitudes do característico do eco-sistema da obra camiliana. Vejam-se os seguintes:
Lealdade e sacrifício: Marta, a criada da “A Brasileira de Prazins” assume papel maternal após a morte da patroa, exemplificando a devoção incondicional.
Astúcia e sobrevivência: Noutras obras, como “O Que Fazem Mulheres”, criadas são retratadas como manipuladoras, usando sua posição para obter vantagens e prebendas;
Vítimas da exploração: Em inúmeras obras é denunciada a precariedade do trabalho doméstico os abusos e o miserável salário;
Ironia e humor: O narrador camiliano frequentemente ridiculariza os vícios das elites através dos comentários ingênuos ou sarcásticos das criadas.
Em Camilo Castelo Branco, as "criadas de servir”, são verdadeiros instrumentos ao serviço de uma acutilante crítica social.
João Sousa Lima